Os primeiros vestígios da presença do marxismo em Portugal datam da segunda metade do século XIX. Alfredo Margarido identifica uma primeira referência a Karl Marx no ano de 1852, autoria de um então estudante de Direito, de seu nome Oliveira Pinto (Margarido, A Introdução do Marxismo em Portugal, 1975, p.41) Todavia, entre final do século XIX e o primeiro terço do século XX, quando em outros países o movimento operário encontrava uma fonte privilegiada de inspiração nas ideias marxistas, em Portugal eram ideias de matriz republicana e/ou anarquista que predominavam junto dos principais movimentos sociais. Foi apenas a partir de meados dos anos 30, já depois da crise mundial de 1929 e da instauração do Estado Novo, e ao tempo da Frente Popular em França e da Guerra Civil de Espanha, que o marxismo começou a assumir maior relevância em Portugal, posicionando-se de modo ambivalente face aos legados do republicanismo e do anarquismo: ao mesmo tempo que encontramos entre os primeiros cultores do marxismo quem no passado emprestou a sua voz a causas republicanas e ou anarquistas, a ascensão do marxismo ocorreu por ruptura com as próprias culturas políticas republicana e anarquista, as quais vieram a ser, com frequência, explicitamente repudiadas pelos marxistas.
Foram a dinâmica política do Partido Comunista Português (PCP) – após um processo de reorganização partidária desencadeado em inícios dos anos 40 – e a actividade cultural do movimento neo-realista – visível já em finais dos anos 30 – que definiram um lugar próprio para o marxismo na História de Portugal (Madeira, Os Engenheiros de Almas, 1996; Nunes, «Comunismo, antifascismo e intelectuais», 1996; Pereira, Álvaro Cunhal, 1999).
A dupla génese do marxismo em Portugal – filiado na esfera político-partidária, por um lado, e no campo cultural, por outro – marcou o seu percurso dos anos 40 em diante. A afirmação do marxismo deveu-se tanto a práticas de um conjunto de dirigentes, escritores e artistas cujo nome é frequentemente destacado quando rememorada a resistência à ditadura do Estado Novo, como a práticas de militantes anónimos cujas trajectórias educativas e laborais implicaram ou não actividade intelectual. Mais do que o nome de uma doutrina e teoria geral ou de um programa político-partidário específico, o marxismo designou, em Portugal, uma cultura ideológica no seio da qual alguns milhares de pessoas, desde finais dos anos 30, dedicaram-se à análise, representação ou transformação do existente estado de coisas.