Do marxismo enquanto cultura ideológica nutriram-se práticas discursivas que consubstanciaram tanto processos de individualização de natureza intelectual e/ou militante – processos de que o autor e o dirigente são as figuras mais destacadas –, como processos de natureza colectiva. Entre estes últimos, e além do Avante!, órgão central do PCP, destacaram-se, ainda em final dos anos 30, iniciativas de natureza editorial, como os periódicos O Diabo e Sol Nascente, e, já a partir dos anos de 1940, a revista Vértice, sem mencionar outros títulos de âmbito regional ou local que, em vários casos, antecederam aqueles mais célebres periódicos (Trindade, O espírito do diabo, 2004; Pita, Conflito e unidade no neo-realismo, 2002; Andrade, Utopia, intelectuais e comunismo, 2010; Dias, O «Vértice» de uma renovação cultural, 2012). Todas estas publicações foram sujeitas à censura que vigorou até à queda do Estado Novo, a qual também condicionou vários encontros informais ou formais – proporcionados por palestras, conferências, colóquios e reuniões de natureza pública, semipública ou clandestina – durante os quais, ainda assim, o marxismo fez curso.
Entre os temas sujeitos à consideração dos marxistas, encontraram-se a matemática, a filosofia, a pintura, a agricultura, a ciência ou o desporto, bem como vários outros de que também fez parte a história, a cuja investigação e escrita se dedicaram uns quantos marxistas. A importância do estudo do passado para o marxismo pode ser assinalada a dois níveis. Em primeiro lugar, tal estudo participou da formação do marxismo enquanto tradição ideológica específica – isto é, tal como propuseram novos modos de prática política ou artística, os marxistas advogaram novos modos de praticar a actividade historiográfica, esta constituindo-se como um terreno de cultivo de uma forma marxista de ser sensível ao real e de, a partir dele, produzir sentido. Em segundo lugar, o estudo do passado pautou a intervenção política dos marxistas, na medida em que o conhecimento produzido pela historiografia marxista foi, por vezes, mobilizado para certificar a validade de certas apostas estratégicas e desautorizar outras.