Iniciativa de Vitorino Magalhães Godinho em 1947, a SPHC reuniu o jovem Jorge Borges de Macedo, a quem Godinho confiava tarefas mais executivas, outros jovens historiadores que haviam sido alunos de Godinho, como Joaquim Barradas de Carvalho, e ainda historiadores como António José Saraiva, Armando Castro e Flausino Torres. Se bem que fosse a escola dos Annales, com quem Godinho já então mantinha relações de proximidade, a constituir-se referência central do projecto da SPHC, foi do conjunto de autores nesta reunidos que emergiram os primeiros trabalhos historiográficos que podemos designar como marxistas (Carvalho, As invenções técnicas e a história económica, 1944; Torres, Religiões Primitivas, 1944; Azevedo, Condições Económicas da Revolução Portuguesa de 1820, 1944; Saraiva, Para a História da Cultura em Portugal, 1946; Castro, Introdução ao estudo da economia portuguesa, 1947; Macedo, A situação económica no tempo de Pombal, 1951). Refira-se, aliás, que, com excepção do próprio Magalhães Godinho, vários dos referidos membros da SPHC mantinham então relações de militância ou forte simpatia com o PCP.
A segunda fase de afirmação da historiografia marxista em Portugal teve início nos finais dos anos 50 e estendeu-se pelos anos 60, década em que surgiram trabalhos de novos autores. A proveniência destes novos autores era relativamente diversificada, ainda que todos igualmente mantivessem uma relação de simpatia e/ou militância com o PCP. Alguns faziam parte de um reduzido e efémero grupo de estudos históricos formado na prisão de Peniche, reunindo militantes e dirigentes do Partido. Desse grupo destacar-se-iam Álvaro Cunhal e António Borges Coelho, que entre os anos 50 e os anos 60 escreveram trabalhos em torno de 1383 (Coelho, A Revolução de 1383, 1965; Cunhal, Les luttes de classe au Portugal à la fin du moyen âge, 1967 [versões anteriores deste texto foram editadas em revistas marxistas francesas poucos anos antes]). E se a produção historiográfica de Cunhal por aqui se ficou, Borges Coelho iniciou então um extenso percurso, ao longo do qual se debruçou, entre outros, sobre temas como a presença árabe, a expansão portuguesa ou a Inquisição, para mais recentemente se dedicar à escrita, em vários volumes, de uma nova história de Portugal (Coelho, História de Portugal, 2010-2013).