Já nos trabalhos de Victor de Sá em torno do século XIX português, elaborados no contexto dos anos de 1960, foi menor a valorização das estruturas económico-sociais enquanto factor determinante do processo histórico. Em compensação, Sá tendeu a dedicar maior atenção às dinâmicas políticas associadas às movimentações sociais de grupos populares, interpeladas por fórmulas conceptuais como luta de classes. No caso de Sá, a atenção dirigiu-se em particular aos contextos urbanos, como resulta claro da leitura das suas páginas em torno do setembrismo, nas quais o sujeito político de algum modo se autonomizou – até por via de uma sua sensibilidade transnacional – do contexto nacional que o precederia (Sá, A Revolução de Setembro, 1969). Dos anos 60 em diante, José Manuel Tengarrinha preocupou-se também em analisar movimentos de âmbito rural, aqui cruzando a questão da luta de classes com os debates em torno da política popular (Tengarrinha, Movimentos camponeses em Portugal na transição do Antigo Regime para a sociedade liberal, 1981).
Assim, enquanto historiadores marxistas que iniciaram o seu percurso nos anos de 1940 – não por acaso, também, os mais próximos dos primeiros Annales – quiseram fazer das suas obras respostas exemplares aos limites da velha História Política, a qual tendia a ignorar os factores económico-sociais do processo histórico, historiadores como Sá e Tengarrinha, que começaram a sua actividade nos anos de 1960, procuraram já resgatar o político ao domínio institucional em que aquela velha História Política tendera a circunscrevê-lo. Se trabalhos como os de Castro lutaram por inscrever a economia na agenda historiográfica, análises como as de Sá e Tengarrinha contribuíram para que a análise da política extravasasse o seu confinamento individualista e elitista.
Em outros casos, porém, é mais difícil situarmos os historiadores marxistas portugueses do lado da historiografia que concede maior importância ao peso da estrutura económica, ou, em alternativa, do lado da historiografia que descreve a autonomia da acção política em relação às suas próprias condições estruturais. É por exemplo o que se passa com a análise de Álvaro Cunhal em torno dos acontecimentos de 1383. Se tal análise se desenvolveu fazendo referência – à semelhança de um historiador como Armando Castro – à questão dos modos de produção dominantes em dada época histórica, com Cunhal a focar a questão da transição do feudalismo para o capitalismo; ela igualmente valorizou – e aqui à imagem de um historiador como Victor de Sá – a questão da luta de classes, dando conta de dissensões entre o que Cunhal designou por burguesia e «rudimentos do proletariado moderno».