É ainda articulando critérios de índole social e de índole nacional que os historiadores marxistas analisam o expansionismo e o colonialismo portugueses. Por um lado, fazem derivar as razões de ser do pioneirismo da expansão portuguesa das consequências sociais e culturais da revolução de 1383, nesta identificando o fundamento daquele que era considerado, por correntes historiográficas de distintas matizes político-ideológicas, o período dourado da História de Portugal. Por outro, imputam a razão de ser dos elementos de opressão colonial próprios do expansionismo aos efeitos negativos de um Portugal contra-moderno, que consideram tanto mais reaccionário quanto mais subjugado a interesses das modernas potências coloniais ocidentais. A historiografia marxista acabou, assim, por fazer veicular uma leitura do passado compaginável com as teorizações do imperialismo que se tornaram dominantes no seio do movimento comunista e que acolhiam conciliatoriamente patriotismo e anti-imperialismo.
Modo de Produção e Luta de Classes
A tensão entre modernidade e contra-modernidade, fundamental às visões marxistas do passado nacional, foi, porém, operacionalizada de forma diversa em cada investigação. Enquanto investigações de alguns historiadores se debruçaram preferencialmente sobre o século XIX, outras privilegiaram o estudo do século XIV. Enquanto alguns historiadores sobrepesaram os factores económico-sociais como determinantes do devir histórico, outros procuraram conferir autonomia aos domínios social ou até cultural e político. E enquanto em alguns trabalhos se conferiu maior centralidade às dinâmicas históricas globais, noutros colocaram-se em relevo as especificidades nacionais.
Nos trabalhos de Armando Castro, publicados desde os anos 40, o processo histórico tendeu a ser descrito como uma série de efeitos – ainda que não sem mediação – de grandes estruturas económico-sociais, que assim balizavam o campo de possibilidades da acção dos homens. Fórmulas conceptuais como modo de produção, e sua consideração à luz de uma leitura própria da história da divisão internacional do trabalho e da questão nacional, assumiram-se aí como instrumentos susceptíveis de desvelar os sentidos não evidentes do passado. Por exemplo, na sua visão do século XIX português – esse de que a universidade salazarista tomava distância (Pina, A Quimera do Ouro, 2003) –, Castro, por um lado, olhou às particularidades do desenvolvimento económico português (com ênfase para a atenção que reivindicava para a persistência do Antigo Regime), por outro, procurando tornar essas particularidades legíveis à luz das dinâmicas internacionais (Castro, A dominação inglesa, 1972), deu um primeiro contributo para uma História de Portugal sensível à questão do imperialismo.