À margem do Grupo de Peniche, mas igualmente publicando os seus primeiros trabalhos nos anos 60, Victor de Sá e José Manuel Tengarrinha destacaram-se, eles também, nesta segunda fase, nomeadamente devido aos seus contributos para a história do século XIX. Dando então à estampa as suas primeiras investigações (Tengarrinha, «Tradição e Revolução I – As Reformas Económicas de Mouzinho da Silveira», 1961; Sá, Perspectivas do Século XIX, 1964), veremos adiante que ofereceram ao leitor uma visão do século XIX diferenciada da que emanava dos historiadores marxistas dos anos 40, ao mesmo tempo estabelecendo os primeiros lineamentos de algumas áreas de estudo, como a história do movimento operário ou a história dos movimentos sociais, e realizando novas análises de certos objectos e práticas culturais, como a imprensa ou a leitura (Tengarrinha, História da Imprensa Periódica Portuguesa, 1965; Tengarrinha, A novela e o leitor português, 1973).
Finalmente, uma terceira fase da historiografia marxista em Portugal teve início já na primeira metade dos anos 70, estendendo-se ao longo dessa mesma década. Apesar de grande parte dos trabalhos dos historiadores que participaram desta terceira fase ter sido publicada já depois de 1974, e de por isso não nos debruçarmos mais demoradamente sobre eles nesta ocasião, importa referir o seu aparecimento. É que, se alguns dos contributos destes novos historiadores vinham dar continuidade a preocupações que os precediam, em outros casos efectuava-se um corte com o passado do marxismo em Portugal. Este corte foi tanto mais visível quanto falamos de autores cujo percurso político foi sendo feito à distância do PCP – quando não deliberadamente contra – e em proximidade às correntes de extrema-esquerda que se desenvolveram no quadro de eclosão do conflito sino-soviético, da cisão de Francisco Martins Rodrigues com o PCP e da radicalização do movimento estudantil. Reivindicando uma leitura do marxismo que tomavam como mais pura ou consequente do que aquela que se autorizava na esfera do PCP, autores como César Oliveira, Manuel Villaverde Cabral, Fernando Medeiros ou José Pacheco Pereira, ainda que com referências político-ideológicas entre si divergentes, procuraram desenvolver uma historiografia particularmente dirigida ao estudo do movimento operário, na continuação dos trabalhos de Sá e de Tengarrinha, mas avançando já pelo estudo do século XX (Pereira, As lutas operárias contra a carestia de vida em Portugal, 1971; Oliveira, O operariado e a República Democrática, 1972; Cabral, O desenvolvimento do capitalismo em Portugal, 1976; Medeiros, A sociedade e a economia nas origens do Salazarismo, 1978). Focando especificamente o período que vai do final do século XIX ao estertor da Primeira República, como que partiram em busca de uma resposta para a queda desta última, a ausência de uma revolução social e a durabilidade do Estado Novo.