A fortuna desta nova forma situa-se nos anos 80 e 90 e assistimos um pouco por toda a Europa a um recrudescimento do romance histórico que, na proposta de Linda Hutcheon, se passaria a designar de metaficção historiográfica pós-moderna. Já não se acredita numa recriação unívoca do passado, mas trabalha-se consciente e criticamente a matéria histórica, de molde a explorar as potencialidades que ficaram esquecidas ou encobertas pelo discurso oficial. Linda Hutcheon e Elisabeth Wesseling teorizam sobre o aparecimento destes novos textos, que se podem transformar em verdadeiros repositórios de subversão e experimentação discursiva.
Em Portugal, nos romances com base histórica, poderemos distinguir seis categorias, que constituem a base para uma tipologia do género.
O romance de família
Há obras cuja diegese se centra numa família e que vai seguindo os seus sucessos ao longo de duas ou mais gerações. A par dos eventos mais relacionados com a família, encontramos referência aos acontecimentos políticos, sociais e culturais das épocas em causa. A História passa a ser contada do ponto de vista daquele núcleo e é através dele que nos apercebemos da importância das mutações e convulsões do passado. Estão neste caso vários romances: Levantado do Chão (1980), de José Saramago, narra a exploração latifundiária no Alentejo, ao longo do século XX; Café República (1982), Café Central (1984), Café 25 de Abril (1987), Razões de Coração (1991) e A Guerra Civil (1993), de Álvaro Guerra - nos três primeiros foca-se a vida de uma pequena vila entre 1914 e 1976, onde se entrelaçam as mais diversas opções políticas e pessoais, nos dois últimos, são a invasão francesa de 1808 e as guerras entre liberais e absolutistas que constituem o pano de fundo do fazer histórico; as obras de Mário Cláudio, A Quinta das Virtudes (1990) e O Pórtico da Glória (1997) dão especial destaque à história da casa através dos seus habitantes, havendo o emprego obsessivo do condicional contrafactual para sugerir a ficcionalidade do narrado – a vida da família torna-se mais relevante do que a pública ou privada, na medida em que pormenores como os culinários ou da barrela da roupa, a compra de utensílios domésticos ou a alimentação e engorda dos porcos têm mais destaque do que o Cerco do Porto ou a visita de D. Maria II à cidade Invicta; O Último Cais (1992) e A Deusa Sentada (1994), de Helena Marques, recriam o Funchal do passado; O Senhor das Ilhas (1994). de Isabel Barreno, reconstrói a história da família Martins nas ilhas de Cabo Verde, a partir dos finais do século XVIII; Os Pioneiros (1994), Os Impetuosos (1994), Os Bem-Aventurados (1995) e Os Mal-Amados (1997) de Luísa Beltrão, contam a história de uma família burguesa durante os séculos XIX e XX.