Os romances que reescrevem a biografia de personagens referenciais são fundamentalmente diferentes dos seus congéneres do início do século, uma vez que, frequentemente, se ultrapassa a relatividade histórica para se atingir uma dimensão quase mítica. As várias figuras aparecem assim filtradas pela ideologia dos seus criadores que pretendem demonstrar uma teoria através do relato da vida das personagens, servindo estas mais como pretexto do que como fim em si mesmas. Ressaltamos neste caso as seguintes obras: Fanny Owen (1979), Adivinhas de Pedro e Inês (1983), Um Bicho da Terra (1984 – sobre o judeu Uriel da Costa), A Monja de Lisboa (1985- sobre Sor Maria da Visitação) e Eugénia e Silvina (1989- sobre Eugénia Viseu e um possível caso de parricídio), de Agustina Bessa Luís; A Voz dos Deuses (1984- sobre Viriato), O Trono do Altíssimo (1988- sobre S. Quintiano de Braga), A Hora de Sertório (1994) e Inês de Portugal (1997), de João Aguiar; Memória de Inês de Castro (1990) e Vida de Sebastião Rei de Portugal (1993), de António Cândido Franco – ainda muito influenciadas pelo saudosismo e seus epígonos; Vida de Ramón (1991), de Luísa Costa Gomes; As Portas do Cerco (1992- sobre Camilo Pessanha) e Amêndoas, Doces, Venenos (1998 - sobre o Dr. Vicente Urbino de Freitas), de António Rebordão Navarro; D. Leonor de Távora – O Tempo da Ira (1993), de D. Luiz de Lencastre e Távora; Crónica Esquecida d’El-Rei D. João II (1995), de Seomara da Veiga Ferreira; A Esmeralda Partida (1995 – sobre D. João II), de Fernando Campos; A Sorte e a Desdita de José Policarpo (1995- sobre o possível autor do atentado contra D. José), de Alberto Oliveira Pinto.
Pretensas autobiografias
Aparentado com este último género é aquele que coloca a narração na boca de personagens referenciais, que são simultaneamente os protagonistas, apresentando uma parcial focalização dos acontecimentos passados, focalização que se afasta radicalmente da consagrada. Ao usar este artifício, os autores assumem que a História pode ser passível de diferentes leituras e interpretações. Salientem-se romances como: A Casa do Pó (1986 – cujo narrador é Frei Pantaleão de Aveiro, o protagonista), e A Sala das Perguntas (1988 – com Damião de Góis, como narrador), de Fernando Campos; Eu, Nuno Álvares (1987), de Teresa Bernardino; Memórias de Agripina (1993) e Leonor Teles ou O Canto da Salamandra (1998), de Seomara da Veiga Ferreira.