Na Europa, sobretudo na Alemanha, em França e na Inglaterra, a nova corrente romântica já estava instalada e autores como Walter Scott tinham começado a praticar um género novo, onde a História passara a jogar um importante papel. O nascimento da História como ciência (definitivamente, afastada da lenda e do mito) e a reação ao império napoleónico, favoreceram o aparecimento do romance histórico, legitimador de nacionalidades em perigo e meio eficaz (pensava-se) de ensinar História a essa burguesia cuja ascensão social não se tinha traduzido em igual ascensão cultural.
Em 1814, Walter Scott publicou Waverley, que tem o sugestivo subtítulo «’tis sisty years since», significando a existência de uma distância temporal entre o tempo da enunciação e o cenário onde se desenrola a intriga. A partir desta data, surgirão inúmeros romances um pouco por toda a Europa, com características semelhantes, evocando o passado e tentando reconstruí-lo com base em documentos e em fontes consideradas fidedignas. A opção pela veracidade dos factos narrados, assente numa preocupação de conhecimento efetivo e de transmissão do mesmo, teria como consequência a narração de eventos não demasiado próximos o que tiraria a fundamental perceção crítica, impedindo uma análise idealmente objetiva. Como escreve Avrom Fleishman (The English Historical Novel…, 1971, p. 3), o lapso temporal de duas gerações (40-60 anos) será imprescindível para se poder considerar um romance como histórico, tal como o século XIX o concebia. De igual modo, serão condições essenciais a existência de topoi da data e do lugar, bem como a referência a acontecimentos e as pessoas reais, isto é, que tenham tido uma existência historicamente documentada. Estas condições, aliadas a um pendor didático, decorrente das circunstâncias político-económicas e sociais já referidas, constituem o núcleo duro do que se poderá designar de romance histórico.
Em Portugal, será Alexandre Herculano, e seguidamente outros autores como Almeida Garrett, Arnaldo Gama, Rebelo da Silva ou Pinheiro Chagas, para citar apenas os mais significativos, que darão corpo a inúmeros romances e contos que possuem, grosso modo, as características supra mencionadas. Devemos ainda assinalar que, normalmente, os romances históricos oitocentistas privilegiam determinados momentos considerados importantes para a consolidação das nacionalidades, postas em perigo pelas tropas imperialistas de Napoleão. E a verdade é que os primeiros romances históricos de Walter Scott têm como pano de fundo dois ambientes distintos, mas, de certa forma complementares: a Idade Média, tempo da consolidação nacional e as lutas entre escoceses e ingleses, na busca de uma legitimação identitária. No caso português, os romances de Herculano têm também como cenário a Idade Média, início temporal da nacionalidade, procurando três momentos-chave da sua legitimação: a invasão árabe, em 711, e o início da reconquista cristã (Eurico, o Presbítero, 1844); os tempos de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal (O Bobo, 1843, em O Panorama; em livro, 1871); a batalha de Aljubarrota e definitiva demonstração da soberania nacional (O Monge de Cister, 1848). O mesmo se passa com os outros autores coevos, que escolhem sempre pretextos históricos facilmente identificáveis, na mira de ensinar aos leitores as referências da história e da tradição. O primeiro romance histórico, digno do nome, é Rausso por Homízio (1842-1843), de Rebelo da Silva, onde o autor não se afasta substancialmente das teorizações de Herculano.