Em Portugal, o romance histórico, como vimos, aparece tardiamente, só na década de 40, com cerca de trinta anos de atraso em relação ao resto da Europa. Condições políticas precisas, como a persistência de uma monarquia absoluta até 1820, a guerra civil e o exílio de intelectuais em França e Inglaterra, contribuíram para uma prevalência de uma poética ainda clássica, apesar dos esforços da Marquesa de Alorna e de alguma produção de Bocage. Garrett, em Paris, escreve em 1825 e 1826, Camões e D. Branca, respetivamente, longos poemas onde já se notam bem as características românticas e o gosto por figuras do passado nacional. Contudo, não podemos ainda falar de romance histórico, nem dos ingredientes que lhe são característicos.
Apoiados nos elementos enunciados (topoi da data e lugar, acontecimentos e personagens referenciais/com existência real) e com intenções didáticas evidentes, que levam Alexandre Herculano a escrever que um romance de Scott ensina mais do que um livro de História (O Panorama, 1/8/1840), os escritores oitocentistas, muitos deles também historiadores, como é o caso de Herculano, pretendem aliar a descrição de factos históricos e facilmente identificáveis, com enredos amorosos, que empolgariam o leitor. Contudo, o crítico e romancista italiano, Alessandro Manzoni, já alerta para a incorreção de tais afirmações, afirmando que só se poderão tirar tais ilações num momento de entusiasmo, e que não se poderão repetir depois de reflexão (Manzoni, «Del Romanzo Storico…”, 1993, p. 1762). Veremos como a aliança perigosa entre a reconstituição histórica e o enredo amoroso resulta numa série de anacronismos, que afetam a credibilidade histórica e a reconstituição do passado.
Lukacs publicou, em 1937, um estudo fundamental sobre o romance histórico, mesmo se o mesmo é ideologicamente bastante marcado e se as suas análises não conseguem prescindir das opções políticas do autor. Segundo ele, a obra de Scott seria a herdeira do romance social do século XVIII e falando raramente do presente, significá-lo-ia através das épocas passadas (Lukacs, Le Roman…,1965, p.33).