Será a partir do século XVIII (Mª de Fátima Marinho, Um Poço sem Fundo, 2005, pp. 46-48), que começam a aparecer títulos que parecem apostados em recriar o passado. No entanto, como afirma Françoise Barguillet as peripécias apresentadas são predominantemente do domínio do factual, do fait-divers, e nunca se debruçam sobre o estudo da época (Barguillet 1981: 42). O mesmo sucede no setecentos português, de que pode ser exemplo Caramurú – Poema Épico do Descobrimento da Baía (1781) de Fr. José de Santa Rita Durão, onde este refere sobretudo as diferenças culturais, como a antropofagia, não se preocupando minimamente com a análise conjuntural da época. O caso mais interessante é, talvez, o do Feliz Independente (1779), do Padre Teodoro de Almeida, onde já podemos vislumbrar uma ténue inserção da narrativa no passado.
Será, no entanto, depois da Revolução Francesa e das tentativas expansionistas de Napoleão que o romance histórico se começará a desenhar, adotando algumas técnicas já existentes nos romances dos séculos anteriores.
A Revolução de 1789, em França, veio transformar radicalmente o equilíbrio social existente, tendo tido repercussões inevitáveis em todos os domínios da sociedade. A mudança ocorrida nos circuitos do poder, a transformação económica, que começa a pôr a tónica nos meios urbanos e nas transações comerciais protagonizadas pela burguesia em evidente ascensão, revoluciona a mentalidade, pondo simultaneamente a nu a diferença entre uma nobreza culta, mas com menor poder económico e uma burguesia, subitamente endinheirada, mas desprovida de referências culturais.
Numa época especialmente conturbada, não será difícil explicar o aparecimento de um líder como Napoleão Bonaparte, cujas intenções imperialistas serão fundamentais para consolidar as mudanças socioculturais inevitáveis. A sua política expansionista, a tentativa de conquistar a Europa e de instaurar o domínio francês em todos os reinos, terá consequências difíceis de ignorar.
Em Portugal, três invasões dos exércitos comandados por generais às ordens de Napoleão causaram grande instabilidade (e horror aos franceses) e provocaram a ida da corte para o Brasil. Quando o rei, D. João VI, regressa, em 1820, e jura a Carta Constitucional, desenha-se um novo equilíbrio social, que se revelará ainda bastante instável. Depois da morte do rei, em 1828, desencadeou-se uma guerra civil, entre liberais, representados por D. Pedro, o herdeiro, e absolutistas, cujo principal protagonista seria D. Miguel, seu irmão. A guerra civil que só terminará em 1834, com a Convenção de Évora Monte, obrigou intelectuais portugueses (como Almeida Garrett e Alexandre Herculano) ao exílio, em Inglaterra e França, e proporcionou o contacto destes com as novidades culturais e literárias europeias.