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A crítica a uma tradução por António Feliciano de Castilho do Fausto, de Goethe (1872), e a controvérsia pública que se segue, revelam um polemista exigente. Igualmente se revela um avisado metodólogo como quando diz, citando Goethe, que tudo o que pensamos já foi pensado mas o que podemos reivindicar é o processo por que de novo pensamos e estudamos assuntos já tratados (1873). A polémica com os defensores de Castilho (conhecida por “Questão do Fausto”) é seguida com interesse em Berlim pela futura mulher, a filóloga Carolina Wilhelm Michaëlis, então intérprete em línguas hispânicas do Ministério do Interior alemão, dando origem a uma troca de correspondência com o jovem de 24 anos Joaquim de Vasconcelos. Casam pelo registo civil em Berlim (1876), em março, e fixam residência no Porto em junho. Em 1877 têm o único filho, Carlos Joaquim, que estuda em Berlim e se forma como engenheiro de máquinas. Afirma a pertença intelectual e moral à Alemanha, país em que se promove a criação desse Estado ideal, a república de sábios ou das letras (Gelehrtenrepublik) através de um cosmopolitismo artístico e de um comunismo do espírito. A evidência de que os monumentos estão a ruir (com exceção de cuidados avulsos para Jerónimos e Batalha), da falta de instrumentos para investigar, da pobreza das bibliotecas e dos arquivos e da falta de público que compense a exaustão das investigações, são tópicos recorrentes da sua reflexão. A dimensão comparada dos estudos artísticos do conde e diplomata polaco radicado em Portugal nos anos 40 do século XIX, Atanazi Raczynski, e questões por ele trazidas para a ribalta (entre as quais a do pintor Grão-Vasco), cativam-lhe a admiração. Com a morte de Raczynski (1874), em boa verdade com a sua transferência diplomática para Espanha (1848), Vasconcelos atesta um hiato, a falta de continuidade nos estudos artísticos, com duas ou três exceções que não chegam para criar uma tendência. Em vez do esforço para averiguar e estabelecer factos artísticos, da sujeição ao trabalho nunca remunerado em função da energia e dedicação, da alegre disposição para permanecer entre arquivos e papéis, Joaquim de Vasconcelos comprova a existência da doença das palmadinhas-nas-costas entre investigadores, publicistas e curiosos, situação que o encaminha para um pessimismo ativo. É quando se analisa a “cortesia rasteira e servil dos portugueses” (O Consumado Germanista..., 1873, p. 5) e a mania da ostentação que a decadência lhe parece palpável em face dos dois aspetos que fazem viver ou morrer uma nação, a existência moral e intelectual. |
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