É assim que estabelece relações – algumas mais próximas e duradouras, outras nem tanto – com nomes que, como ele, nos anos 1930 viriam a se afirmar no cenário intelectual brasileiro, como José Lins do Rego, Manuel Bandeira, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Sergio Buarque de Holanda. No final da década, exercitou a Sociologia aprendida nos Estados Unidos trabalhando, a partir de 1928, como professor dessa cadeira na Escola Normal de Pernambuco, ao mesmo tempo em que continuava a ser secretário do governador do Estado, Estácio de Albuquerque Coimbra, cargo assumido no ano anterior para surpresa de seus amigos estrangeiros e brasileiros, que se perguntavam qual sentido havia em um pensador de seu quilate se envolver com a vida política e suas vicissitudes.

Não deixa de ser irônico notar que foram justamente as vicissitudes da vida política que deram novo e decisivo impulso à atividade intelectual de Freyre. Afinal, seu livro de estreia, Casa-grande & senzala. Formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal, publicado no Rio de Janeiro por Maia & Schmidt na virada de 1933 para 1934, é uma obra escrita “na condição de emigrado”, como ele mesmo diria muitos anos mais tarde (“Como e porque escrevi Casa-grande & senzala”, 2002 [1968], p. 708). Forçadamente emigrado, uma vez que a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao governo central e provocou um rearranjo nos poderes locais Brasil afora, levou-o também a exilar-se, acompanhando o destituído amigo Estácio Coimbra. Foi então que, ainda em suas palavras, lhe veio “a ideia de escrever um trabalho que abrisse novas perspectivas à compreensão e à interpretação do Homem através de uma análise do passado e do ethos da gente brasileira” – trabalho esse já vislumbrado em 1926, quando, em passagem por Washington, aproveitara a riqueza da biblioteca do velho mestre Oliveira Lima para estudos e anotações, mas mantido “em segredo quase absoluto” até o final da década (idem, p. 709). Nada há de gratuito, portanto, nas linhas que abrem Casa-grande & senzala, aquelas do primeiro parágrafo da primeira edição: “Em outubro de 1930 ocorreu-me a aventura do exílio. Levou-me primeiro à Bahia; depois a Portugal, com escala pela África. O tipo de viagem ideal para os estudos e as preocupações que este ensaio reflete” (CGS, 2003 [1933], p. 29). Desnecessário dizer, agora a viagem (e sua experiência), por atípica e imprevista que fosse, não apenas se faz presente na obra: antes, a compõe, como demonstra o emprego do adjetivo “ideal” a qualificá-la.

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