Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos (1911-28)
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Destaquemos um parágrafo da 1ª edição de O Espírito Histórico (numa «Justificação» que desaparece nas edições posteriores): “Urge, pois, que na reforma da instrução superior, se crie um centro de estudos nacionais ou pelo menos, ainda que dispersos, estes tenham uma longa representação. [….] Era também da maior urgência, por ser da maior oportunidade e eficácia, a fundação de uma revista de história, onde se recolhessem todas as monografias, todos os elementos que contribuíssem para essa tarefa sagrada na nacionalização do país. O exemplo está dado. Em 1819 – após a revivescência que se seguiu aos desastres infligidos por Napoleão – fundou-se em Berlim uma Sociedade histórica, a que pertenceram, entre muitos outros, Niebuhr, Bruder Grimm, Savigny, Bruder, Schlegel, Ranke, etc. Insuflemos, pois, um espírito nacional e novo ao país que a si mesmo se deu uma forma nova” (O Espírito Histórico,1ª ed., p. 12). Encontramos portanto, já em 1910, o pensamento génese para a criação de um movimento associativo tendo como mote os estudos históricos, de preferência aqueles que incidissem sobre a história pátria, ou seja, um primeiro passo para a Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos. Note-se que se a SPEH surge em reacção ao próprio momento revolucionário, nomeadamente a uma determinada concepção de progresso , a associação irá durar sensivelmente o mesmo tempo que a I República.
Em 1911, é publicada a «circular-programa» (Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, pp. 120-125), texto fundador da SPEH onde constam as suas bases programáticas. Enviada a “todos os profissionais portugueses de ciências históricas” (op. cit., p. 120), foi assinada por quatro figuras, Fidelino de Figueiredo, Cristovão Magalhães Sepúlveda, David Lopes e José Leite de Vasconcelos. Não podemos deixar de notar um certo ecletismo de áreas de estudo dos nomes referidos – o que é natural, atendendo a época – com um militar, um arabista, um etnólogo e Fidelino, que viria a trilhar um longo percurso nos estudos de história literária, crítica e ensaísmo. Inclusivamente, temos de referir as semelhanças que encontramos entre esta circular-programa e O Espírito Histórico, o que nos leva a colocar a hipótese de que o texto da circular tenha sido escrito por Fidelino de Figueiredo.