Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos (1911-28)
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Dentro da acção reformista proposta por Fidelino na sua ideia de espirito histórico, a SPEH apresentava-se como um dos projectos com maior dimensão e significado. A circular programa revela duas dimensões, entre uma clara posição ideológica e uma hipótese epistemológica. A SPEH tinha no seu programa quatro grandes objectivos: reunir a comunidade científica da área das ciências sociais, divulgar os trabalhos produzidos nessa área, permitir o reconhecimento social do trabalho dos historiadores, no que se refere à recepção das obras produzidas e modos de motivá-los para novas produções e, finalmente, criar um centro de discussão e de crítica na área das ciências sociais (Fidelino de Figueiredo, «Programa da Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos», Estudos de Literatura, 1ª Série (1910-1916), 1917, pp. 215-224). O programa é omisso em relação à questão da Universidade e da formação crítica e científica dos historiadores: os seus autores poderiam não considerar a Universidade como espaço de discussão, pelo menos no modelo que pretendiam para a SPEH.
Considerava-se falida a concepção racionalista da História alicerçada nos ideais da Revolução Francesa, que “queria construir uma norma moral e uma organização social sobre os elementos da ciência», baseada na crença de uma verdade objectiva, impessoal e intemporal. Em contrapartida, para eles, era necessário aplicar ao estudo da sociedade «um critério dinâmico e temporal, um método psicológico que atendesse às causas finais, que procurasse sobretudo explicar e menos avaliar” (Op. cit., pp. 216-217). Desta forma, ao rejeitar-se o conhecimento objectivo e intemporal defendido pela historiografia positivista – perspectiva hegemónica na cultura oficial, incluindo instituições científicas e de ensino –, apresentava-se uma metodologia baseada na relação entre o passado e presente, permitindo assim compreender e explicar a evolução do processo histórico (influência de H. Spencer). A História adquiria um estatuto de ciência, diferente das ciências naturais, pela valorização do papel do historiador no processo (subjectividade do conhecimento histórico) e, principalmente, pelo método utilizado. Esta concepção metodológica constituiu uma novidade em relação à tradição historiográfica dominante em Portugal. Ao alargar a base documental, assumia-se que os estudos históricos passavam a recorrer à interdisciplinaridade (paleografia, arqueologia, epigrafia, numismática, geografia, etc.), pelo menos na concepção e alinhamento do seu uso, constituindo a História o elemento de síntese, na linha da Revue de Sinthèse Historique (1ª Série 1900-1913; 2ª Série 1913-1930) de Henri Berr.