Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos (1911-28)
4 / 15
A criação da SPEH reflectiu também a influência da historiografia alemã em Portugal, introduzida no nosso país por Heinrich Schaeffer e Alexandre Herculano. As raízes da historiografia centrada na nação tinha-se desenvolvido em novos moldes desde os princípios de Oitocentos, com a acção do Barão de Stein na reforma dos estudos e na fundação da Sociedade Histórica na Alemanha. O surgimento de Sociedades Históricas foi uma das respostas às preocupações de carácter nacionalista em voga na segunda metade do século XIX. No caso português, a Sociedade Nacional de História, depois Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos, ao promover os estudos das tradições e da história pátria, foi uma das formas de acompanhar o movimento nacionalista europeu, como se torna exemplificativo na Europa do meio-dia: o Instituto d´Estudis Catalans criado em 1907 em Barcelona ou o Centro de Estudios Catalans, dentro da Junta para la Ampliación de Estudios e Investigación, criado em 1910. No caso italiano, surgira em 1883 o Istituto Storico Italiana, em Roma.
Na «circular programa» apresentada em 1911 estão expressas algumas das ideias básicas da iniciativa, em particular, a que marca a diferença em relação às ideias historiográficas então dominantes: “O carácter fundamental da verdade histórica é ser aproximativa, uma aspiração portanto, um ideal sempre que se procura atingir, e ser relativa ao tempo, uma verdade temporal, que não pode ser aferida pelas repetições” (Op. cit., p. 219). Desta maneira, os promotores afastaram-se do que consideravam ser as concepções anti-históricas dos positivistas e difundiram um quadro teórico ainda assente, todavia, no conceito de evolução, em que se destacam como conceitos metodológicos a assunção da relatividade do conhecimento, a análise situada temporalmente, a crítica como elemento epistemológico – particularmente como método –, o acaso, a impossibilidade de previsão do futuro, a ligação da História com a vida, no quadro de uma intencionalidade utilitária (compreender o passado e actuar no presente), a História como a «ciência da vida», isto é, como denominador comum a todo o conhecimento, o princípio da causalidade associado ao conceito de evolução, o facto histórico como único e irrepetível e, finalmente, a utilização da análise e da síntese. Estas ideias, no seu conjunto, constituíram uma perspectiva epistemológica e historiográfica actualizada em termos europeus, e que vai ser divulgada em Portugal.