Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos (1911-28)
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Chegou a ser entregue ao então Ministro da Justiça, António Macieira, um projecto onde se procurou apresentar uma visão sistemática da forma como todo o processo de transporte e conservação dos acervos deveria ser conduzido, chegando-se a sugerir que alguns dos sócios da SPEH poderiam auxiliar nesse processo - um dos pontos importantes, a par da componente ideológica subjacente à Lei. Mas note-se que o relator deste manifesto, o conservador da Biblioteca Nacional de Lisboa, Pedro de Azevedo, também escreveu breves apontamentos sobre esta questão, em que teve o cuidado de separar a questão ideológica do trabalho historiográfico: de forma a não criar uma certa fricção, é expressamente dito que a defesa destes acervos incidia apenas na sua importância para as investigações de fundo histórico (Revista de História, vol. I, pp. 51-53). Todavia, em 1913, e como resultado desta enérgica acção de defesa, a Comissão Executiva da Lei, em conjunto com o comando da Guarda Nacional Republicana, tiveram ordens para intimar a SPEH a entregar as chaves da sede. Tal não aconteceu, e, quase que ironicamente, no ano a seguir a SPEH viria a ter um maior prestígio, na medida em que a 9 de Dezembro de 1914, Sobral Cid, então Ministro da Instrução Pública, fez publicar a Portaria nº 271 em que reconhecia a SPEH como de utilidade pública, louvando ainda a Revista de História. Pode localizar-se a designação final da SPEH nesta portaria, tendo em conta outras designações que teve (A SPEH no contexto historiográfico nacional, p. 52). Na Portaria é referida a participação da SPEH na defesa dos arquivos e bibliotecas das corporações religiosas e as relações que esta mantinha com os meios científicos estrangeiros. Não é de estranhar esta tentativa de encerramento da SPEH se tivermos em conta a posição que muitos dos seus sócios e colaboradores assumiam em relação aos republicanos, mormente os Democráticos, sendo Fidelino Figueiredo um dos seus principais críticos.
Outras iniciativas tentou a SPEH levar a bom porto. Em 1915, por ocasião dos centenários da tomada de Ceuta e da morte de Afonso de Albuquerque, a sociedade tinha projectado a realização de um congresso internacional, o 1º Congresso Ibero-americano de História e Ciências auxiliares (veja-se o projecto em Estudos de Literatura, 1ª série, p. 210 e seguintes). Seria, porventura, um dos maiores eventos científicos até à data, com a participação de dezenas de congressistas. Entraria até em «concorrência» com outras iniciativas da Academia das Ciências e da Sociedade de Geografia de Lisboa. Todavia, e fruto do ambiente de guerra que se vivia na altura – a da Grande Guerra –, tal congresso não se chegou a realizar e mesmo as cerimónias da ACL e da SGL ficaram-se por duas sessões solenes.