No fim do século, a história da arte portuguesa recebeu o contributo decisivo de outro autor estrangeiro, o alemão Karl Albrecht Haupt (Büdingen, Hessen, 1856 – Hanôver, 1932). Arquitecto, professor e historiador de arte, doutorado em Filosofia pela Universidade de Giessen, professor do Instituto Superior Técnico de Hanôver, centrou-se no estudo da arquitectura renascentista, publicando a obra Arquitectura da Renascença em Portugal (1890 e 1895), traduzida para português na revista Serões entre 1903 e 1909 e editada em volume em 1922.
O trabalho de Joaquim de Vasconcelos e de uma grande parte dos autores que acabamos de mencionar manteve-se à margem de um campo cada vez mais importante: a crítica de arte, ou seja, o juízo sobre a arte contemporânea, presente sobretudo nas revistas que se multiplicaram a partir de 1840. Referimo-nos, antes de mais, aos magazines generalistas que, embora concedendo à arte um interesse reduzido, ajudaram a sensibilizar o público para o património histórico e, episodicamente, para a pintura e a escultura, graças a artigos históricos e descritivos, a gravuras e a notas de divulgação. As mais importantes foram O Panorama (1837-1844, 1846-47, 1852-58 e 1866-68), «jornal literário e instrutivo da Sociedade Propagadora de Conhecimentos Úteis», a Revista Universal Lisbonense (1841-1859), o Arquivo Pitoresco (1857-68) e O Ocidente (1878-1915).
À medida que nos aproximamos do final do século, multiplicam-se as revistas que divulgam a arte através de crónicas, gravuras de primeira página e apontamentos de viagem, como se observa no semanário Branco e Negro, em 1896. Mas a arte permanece muito secundarizada nas revistas literárias. Um dos exemplos mais significativos talvez seja a Revista de Portugal (1889-1892), dirigida por Eça de Queirós, que, como salienta José-Augusto França, «nas suas três mil páginas de texto apenas recolheu três artigos sobre arte». A imprensa especializada, salvaguardado o caso do Jornal de Belas-Artes ou Mnémosine Lusitana (1816-17), conheceu um incremento a partir da publicação do homónimo Jornal de Belas-Artes (1843), dirigido por Almeida Garrett, que se salienta pela crítica de pintura. As «revistas artísticas» não excluem a literatura, a história ou a arqueologia. Distinguem-se por concederem um lugar mais central à arte e por assumirem com frequência o intuito de a promover e orientar. Aliás, continua a ser recorrente a preponderância literária em periódicos cujo título não o faria supor: A Arte (Porto, 1895), A Arte (Coimbra, 1895-96), A Arte (Porto, 1897-98) e Arte Livre (Braga, 1897-98). Apesar das manifestas dificuldades de autonomização da imprensa artística, quatro revistas merecem destaque: Artes e Letras, dirigida por Rangel de Lima (Lisboa, 1872-1875), A Arte, orientada por Sousa e Vasconcelos (Lisboa, 1879-1881), A Arte Portuguesa, da responsabilidade de Joaquim de Vasconcelos (Porto, 1882-1884) e Arte Portuguesa, com a direcção literária de Gabriel Pereira e artística do aguarelista Casanova (Lisboa, 1895).