Este homem, que fez a sua vida profissional como professor de liceu (desde 1883 até se reformar em 1919), e que, por um brevíssimo período, e já com mais de sessenta anos, ensinou História da Arte na Escola de Belas-Artes do Porto (1913-1917) e arqueologia na Universidade de Coimbra (1915-1918), construiu uma enorme e decisiva obra, centrada na pintura, na arquitectura e nas indústrias artísticas, onde avultam os seguintes títulos: Os Músicos Portugueses (1870), Luísa Todi (1873), Albrecht Dürer e a Sua Influência na Península (1877), A Reforma Geral do Ensino de Belas-Artes em Portugal (1877-1880), Miscelânea Artística (1878-1881), A Pintura Portuguesa nos Séculos XV e XVI (1881), História da Ourivesaria e Joalharia Portuguesa (1882), Exposição de Cerâmica (1883), Da Arquitectura Manuelina (1884), Indústrias Portuguesas (1886-87), O Museu Municipal do Porto (1889), Relação da Embaixada Flamenga (1428-1430) e Viagem de Jehan Van-Eyck a Portugal (1898), Catálogo da Cerâmica Portuguesa: Museu Municipal do Porto (1909), Arte Religiosa em Portugal (1914-15) e Arte Românica em Portugal (1918).
Até ao final do século XIX, ninguém mereceu com tanta propriedade o título de historiador de arte. Na dissertação de mestrado A Historiografia Artística Portuguesa: De Raczynski ao dealbar do Estado Novo (1993), procedemos a um esboço prosopográfico de cento e setenta e seis autores portugueses activos entre 1800 e 1940. Os estudiosos são homens (99%) frequentemente licenciados, mas só em 11% dos casos com componente artística: Direito (16%), Letras (13%), formação comercial e técnica (12%), Teologia (12%) e Medicina (9%). Os estudos sobre arte são, no período em apreço, uma actividade secundária dos seus autores, cuja profissão é naturalmente outra: 26% foram professores, 13% bibliotecários ou conservadores, 12% políticos ou diplomatas, 8% funcionários públicos, 8% militares, 7% eclesiásticos e 5% artistas. A arte não constitui o seu único objecto de estudo. Entre os outros temas abordados, destaca-se a ficção (conto, novela, romance, teatro) e a poesia (15%), os estudos de literatura e língua portuguesa (15%) e a história (14%). Muito abaixo, vêm as monografias locais (7%), a arqueologia (6%), a biografia (4%) e a heráldica e a genealogia (4%). Estes valores devem, porém, ser corrigidos através da valorização dos primeiros três géneros. Contabilizámos a ocorrência de temas e não o seu volume. Ora, a ficção, a poesia, a literatura e a história são praticados por muitos autores e, por vezes, de forma intensa. Os estudos artísticos é que são, de um modo geral, minoritários, como se depreende das suas actividades principais, enunciadas pela Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira s.d. [1935-1960] e pela Verbo: Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (1963-1980). De entre os cento e setenta e seis autores, só vinte e oito são referenciados como estudiosos de arte. Os restantes cento e quarenta e oito beneficiam de um verbete por motivos alheios ao seu trabalho neste campo.