A historiografia artística portuguesa definiu-se entre 1815 e 1845 com Taborda, Cyrillo, Garrett, o cardeal Saraiva e o abade de Castro e Sousa, mas é fácil verificar que nenhum deles se considerava historiador de arte. São escultores, pintores, escritores e eruditos que cumprem uma vocação secundária. Esse foi ainda o caso de Francisco Adolfo de Varnhagen (São João de Ipanema, Brasil, 1810 – Viena, Áustria, 1878). A este diplomata e historiador brasileiro, formado em engenharia militar em Lisboa, que viria a destacar-se pelo estudo da história do Brasil, se deve um ensaio primordial sobre o Mosteiro da Batalha. Referimo-nos à Notícia Histórica e Descritiva do Mosteiro de Belém, publicada ao longo de 1842 na revista O Panorama e no mesmo ano coligida em opúsculo. A importância de Varnhagen decorre quase em exclusivo deste trabalho, apesar de ter deixado duas notas sobre a Torre de Belém (1840) e o portal lateral da Igreja de São Julião de Setúbal (1843). Ali cunhou o termo manuelino, que se converteu numa pedra de toque quase obsessiva. A ideia de que fora criado por Garrett em 1839, em nota ao poema Camões, está errada, uma vez que só ocorre na versão de 1854.
Qual o primeiro estudioso a conceber-se como historiador de arte? Talvez Raczynski, o estrangeiro que deu espessura crítica e metodológica às primícias portuguesas. Paulo Varela Gomes, embora considere Cyrillo Volkmar Machado «o primeiro português que efectuou uma aproximação mais ou menos moderna à História da Arte» (in Vértice, Lisboa, Junho de 1988, p. 47), reconhece a inovação historiográfica trazida pelo diplomata prussiano. «Raczynski não veio alterar substancialmente os pressupostos, as metodologias e os objectos desta História. Veio só dar-lhe algum gosto… o que já não é mau.» (Id.. ib.) Natural de Rogalin, arredores de Poznan, capital do território polaco dominado pela Prússia, Atanásio Raczynski (1788-1874) era neto de um marechal (e conde) e filho de um brigadeiro, ambos grandes apreciadores de arte, que lhe proporcionaram uma educação cuidada. Experimentou a carreira militar e diplomática nas instáveis circunstâncias políticas das campanhas napoleónicas, dedicou-se quinze anos à administração das suas propriedades e em 1830 abraçou em definitivo a diplomacia. Tornou-se ministro plenipotenciário da Prússia e esteve em Portugal entre 1842 e 1845. Quando chegou a Lisboa, tinha acabado de publicar o terceiro e último volume da Histoire de l’Art Moderne en Alemagne. O estudo da arte portuguesa, realizado a convite da Sociedade Artística e Científica de Berlim, frutificou em duas obras: Les Arts en Portugal (Paris, 1846, data também do início de publicação da História de Portugal de Alexandre Herculano) e Dictionnaire Historico-Artistique du Portugal (Paris, 1847).