Sem escapar a estes constrangimentos, a historiografia artística conheceu um desenvolvimento continuado. Uma contagem dos principais livros publicados entre 1800 e 1940 mostra que o seu número cresceu de forma sustentada a partir dos anos de 1860, duplicou nos anos de 1895 a 1910 e atingiu um novo pico na década de 1920.
A historiografia induziu uma prática regular de investigação arquivística, que se reflectiu na linha erudita e descritiva. Sousa Viterbo (Porto, 1845 – Lisboa, 1910) constitui o exemplo marcante deste paradigma. Licenciado em Medicina, quase não chegou a exercer a profissão, tornando-se professor de História da Arquitectura na Escola de Belas-Artes e jornalista. Além da sua volumosa obra literária e histórica, dedicou-se com afinco à arte, onde se distinguiu pela sua incomparável actividade de pesquisa em arquivos. A sua bibliografia sobre arte, com duas dezenas de títulos, concede às «artes industriais» um grande destaque. Começou por escrever sobre A Exposição de Arte Ornamental (1883) e o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (1890), mas tornou-se uma referência absoluta graças ao Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou ao Serviço de Portugal (três volumes, 1899, 1904 e 1922) e às Notícia de Alguns Escultores Portugueses (1900) e Notícia de Alguns Pintores Portugueses (três volumes, 1903, 1904 e 1915). Vindo de outros tempos, Inácio de Vilhena Barbosa (Lisboa, 1811 – 1890) estudou teologia, mas desistiu de seguir a vida religiosa, dedicando-se ao jornalismo. Fundou Universo Pitoresco (1839-1844), colaborou assiduamente em O Panorama e foi vice-presidente da Academia Real das Ciências. Como historiador de arte, consagrou-se à monografia descritiva de edifícios, patente em Estudos Históricos e Arqueológicos (1874 e 1875) e Monumentos de Portugal: Históricos, artísticos e arqueológicos (1886). Foi ainda no século XIX que Maximiano de Aragão (Fagil de Mangualde, 1863 – Viseu, 1929), advogado e professor no liceu de Viseu, licenciado em Direito e Teologia, começou a devotar-se ao estudo da sua região, dedicando uma atenção particular à arte e aos artistas, como se verifica em Estudos Históricos Sobre Pintura (1897) e Grão Vasco ou Vasco Fernandes, Pintor Viseense (1900). Tomás Lino de Assunção (Lisboa, 1844 – Paço de Arcos, 1902), condutor de obras públicas pelo Instituto Industrial, secretário da Biblioteca Nacional e inspector-geral das bibliotecas e arquivos, escreveu comédias, teatro e história, mas deixou também um Dicionário dos Termos de Arquitectura (1895).