O seu trabalho estabeleceu um novo padrão historiográfico, exaltado pela Revista Académica (Coimbra, vol. I, 1845-48, n.º 23, p. 360) nos seguintes termos: «discute os pontos controvertidos, investiga notícias, e escreve com toda a erudição e sensatez de um alemão. Achamos isto melhor do que a leveza francesa; pois antes queremos páginas pesadas de estilo e citações, mas de quem viu por seus próprios olhos, e buscou a verdade das cousas, abandonando as formas brilhantes.» Estudioso experiente, conjugando o gosto de artista com a independência crítica e o rigor metodológico, sentiu-se à vontade tanto na análise como na apreciação da arte do seu tempo. Pôde por isso reavaliar autorias fantasiosas e dar uma lição de trabalho. O exercício incomplacente da crítica, que lhe trouxe algumas inimizades, fê-lo apreciar o valor de Alexandre Herculano, concedendo-lhe palavras que também a si cabiam em parte: «C’est un des hommes les plus amis de la verité que je connaisse en Portugal, d’une grande vivacité d’esprit, très érudit, écrivain d’un mérite généralement reconnu, d’une imagination ardente, plein de zèle, et infatigable.» (Dictionnaire…, p. 131.)
Como é evidente, o trabalho de Raczynski não se realizou sem apoios. Ele próprio salienta os contributos recebidos do visconde de Juromenha, que lhe preparou «Notices sur quelques artistes portugais, peintres, architects, sculpteurs, etc.», do bibliotecário Vasco Pinto de Balsemão, que lhe proporcionou um grande número de documentos e uma lista de quadros atribuídos a Grão Vasco, e, entre outros mais, de Francisco de Assis Rodrigues, director da Academia de Belas-Artes. Mas foi Raczynski o motor desta actividade, o seu organizador e o autor mais avisado para ordenar referências esparsas e muitas vezes mitificadas. José-Augusto França (A Arte em Portugal no Século XIX, vol. I, pp. 393 e ss.) considera os seus volumes a «primeira obra moderna de crítica histórica», que «caiu no meio português como uma bomba, publicando documentos negligenciados, mostrando erros, insuficiências, pretensões de investigadores, de artistas e de coleccionadores». A sua «lição de qualidade», dada «no plano da criação contemporânea tanto quanto no plano da pesquisa histórica», não frutificou de imediato. Talvez se possa dizer que isso só veio a acontecer nos anos setenta, com Joaquim de Vasconcelos. No entanto, todos os estudiosos se apoiaram nele e lhe prestaram homenagem, mesmo quando discordaram das suas ideias.