Nos vinte e cinco anos seguintes, a historiografia artística continuou a ser praticada por diletantes, alguns de inegável mérito, espicaçados por ou outro estrangeiro. Certos aspectos denotam uma mudança que se anuncia: cresce o interesse pelos monumentos, bem como o número de autores e de revistas especializadas.
Enquanto a definição de um «estilo manuelino» seguia o seu curso, as maiores atenções voltavam-se para a figura mítica de Grão Vasco. Foi sobre este pintor que J. C. Robinson, consultor do museu de South Kensington, escreveu numa revista londrina um artigo que José-Augusto França classifica como «um novo exemplo de trabalho profissional» (ob. cit., p. 396), apesar de, noutro lugar, o reduzir ao estatuto de «modesto historiador britânico» (in Ler História, n.º 34, 1998, p. 9). Depois de ter colaborado com Raczynski, o 2.º visconde de Juromenha, João António de Lemos Pereira de Lacerda (Lisboa, 1807 – Lisboa, 1887), que frequentou os cursos de Matemática e Filosofia na Universidade de Coimbra, dedicou-se ao estudo de Camões. No campo da história da arte, limitou-se a produzir alguns artigos. Em 1877, publicou na Revista Crítica de Belas-Artes um texto sobre Grão Vasco, que Joaquim de Vasconcelos reputou como um «estudo interessante e útil para a história da formação do problema» que era então este artista e a «escola» de pintura tecida à sua volta. Francisco de Sousa Holstein (Paris, 1838 – Carnide, 1878), marquês de Sousa Holstein, filho do 1.º duque de Palmela, doutorado em Direito, deputado e par do Reino, foi inspector da Academia de Belas-Artes, redigiu o catálogo da galeria de pintura desta instituição e colaborou em várias revistas. Em Artes e Letras, publicou um ensaio sobre «Grão Vasco e a história da arte em Portugal» (1872) e uma série de oito artigos acerca de Domingos António de Sequeira (1874). Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque (Lisboa, 1792 – 1846), coronel de engenharia, inspector-geral das Obras Pública, ministro do Reino e deputado, estudou em França e foi um dos resistentes liberais da Ilha Terceira e do Mindelo. O seu único escrito sobre arte é a Memória Inédita Acerca do Edifício Monumental da Batalha, que conheceu quatro edições entre 1854 e 1897 e que traduz o empenho do seu autor na defesa do património, então severamente ameaçado pela extinção das ordens religiosas. Na sua curta vida, Henrique Feijó da Costa (Lisboa, 1842 – 1864) frequentou o Curso Superior de Letras, dedicou-se à heráldica, ao romance e ao teatro e fundou o efémero mensário Crónica Enciclopédica. Escreveu Esboços Biográficos dos Principais Pintores Italianos e Rápida Descrição Artística e Histórica dos Quadros Existentes nas Galerias de Florença, publicados postumamente, em 1866. Latino Coelho (Lisboa, 1825 – Sintra, 1891), engenheiro militar formado pela Escola Politécnica de Lisboa (onde foi professor), escritor, jornalista, deputado, par do Reino e ministro da Marinha, praticou uma historiografia artística marcada pelo empolamento literário. Alguns dos seus artigos, incidindo nos Mosteiros dos Jerónimos e da Batalha, em Rafael e nas estátuas do arco da Rua Augusta, surgidos nos anos cinquenta e setenta, foram coligidos sob o título Arte e Natureza.