O cerco à História Política não se ficou por aqui. A História Serial, a História Quantitativa e a New Economic History prolongaram os ataques. A crise de 1929 já tinha vindo chamar a atenção para o fenómeno económico e ao lado de novas teorias – como o Keynesianismo – surgiram novas formas de abordar a História Económica. Ernest Labrousse (1895-1988) associou-se aos “Annales”, mas os seus estudos dirigiam-se para a análise de séries estatísticas, para aquilo a que Pierre Chaunu (1923-2009), mais tarde vem a designar por História Serial. Com base nos Estados Unidos da América, e em autores como Simon Kuznets (1901-1985), uma nova corrente apostou na autonomização total em relação à História. Esta variante destacava-se pelo uso de métodos estatísticos avançados, entroncando na chamada História Quantitativa. Já na década de 1950, surgia ainda nos EUA a “New Economic History”, que se pode definir de forma simples como a ciência que tem por seu objetivo o estudo dos factos económicos passados através do uso de modelos testados segundo os critérios rigorosos da econometria.
A New Economic History apostava na quantificação absoluta e no uso de um condicional não real – o «contra-factual». Esta corrente, pelo método usado, veio a exercer um grande fascínio sobre os historiadores com consequências para a História Política, que nunca poderia atingir tal carácter científico porque baseada no único, no singular e no irrepetível. Para além disso, a New Economic History deu dois Prémios Nobel da Economia (a Douglas North e Robert Fogel, em 1993) por terem renovado a pesquisa em História Económica, aplicando a teoria económica e os métodos quantitativos para explicar as mudanças económicas e institucionais. Os trabalhos do mesmo Fogel revelaram algo de surpreendente: nos seus estudos sobre a escravatura nos EUA chegou à conclusão de que a rentabilidade do uso de mão de obra escrava era um facto que podia ser historicamente comprovado, pelo que não teriam sido motivos de ordem económica a ditar a sua abolição. Se a escravatura no Sul era uma actividade altamente lucrativa, como ficou demonstrado, como se explica que tenha sido travada uma violenta e mortífera guerra civil para acabar com tal instituição? Dito de outra forma, estes autores vieram chamar a atenção para os limites do Económico ao mesmo tempo que alertaram para a importância do factor de decisão.
A súmula das críticas à História Política Tradicional não era pequena e continuava a acumular-se. Muito dificilmente poderia resistir ao fogo cruzado do Marxismo, dos Annales, do Estruturalismo e da New Economic History. Afinal, era psicológica e ignorava os condicionamentos sociais, centrava-se sobre o tempo curto e ignorava a média e a longa duração, era qualitativa e ignorava o quantitativo, era descritiva e narrativa e ignorava a análise e a explicação, e como último “pecado” era ideológica e não científica. Todavia, a História Política sobreviveu. Resistiu na tradição historiográfica anglo-saxónica em figuras maiores como A.J.P. Taylor (1906-1990) ou Richard Cobb (1917-1996), ilustres representantes da historiografia de Oxford, de onde o primeiro seria expulso pelas suas polémicas interpretações acerca das origens da II Guerra Mundial e onde o segundo se afirmou como cultor de uma “history from bellow”. Nesta linha podemos também incluir o hispanista Raymond Carr (1919-2015). Todos escreviam uma história mais psicológica e mais propensa a ignorar os condicionamentos sociais, centrada sobre o tempo curto, não valorizando tanto a média e a longa duração. Tratava-se de uma História qualitativa que desconsiderava o quantitativo, uma História descritiva e narrativa que ignorava a análise e a explicação. No fundo, uma História ideológica e não científica.