A “Escola dos Annales”, enquanto herdeira directa da “Escola de Síntese”, moveu uma crítica directa à História Política Tradicional. Pode-se dizer que os “Annales” nasceram em oposição à História Política. Para além de Pirenne e Berr, já citados, outros pensadores viriam a influenciar o lançamento dos “Annales”. Ainda em 1903, François Simiand (1873-1935) veio criticar os três ídolos dos historiadores positivistas: o político, o individual e o cronológico, sugerindo o alinhamento da História com as Ciências Sociais.
A primeira geração dos “Annales” é lançada em 1929 por Marc Bloch e Lucien Febvre, como referido, seguindo este pressuposto, no que constituiu a primeira grande alteração sistemática de paradigma na historiografia do século XX. Estava em causa uma renovação profunda do discurso historiográfico, mas mais importante, anunciava-se uma reflexão sobre a função social da ciência histórica. Ao ídolo político, os “Annales” contrapunham uma História Económica e Social, ao individual contrapunham uma História Total, e ao cronológico contrapunham a pluralidade dos tempos históricos, conceito depois desenvolvido por Fernand Braudel e de que em Portugal tivemos uma aproximação clara com Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011), também ele um seguidor desta nova geração dos “Annales”, com os seus “Complexos Histórico-Geográficos”.
Com base no antagonismo face à História Política, a disciplina histórica renovou-se. Toda a História passa a ser História Social. A História transformou-se numa espécie de “super ciência” do social. Simultaneamente, foi proposta uma nova noção de “documento”. O seu carácter escrito e narrativo perdeu exclusividade. Em seu lugar ganhou destaque uma abordagem assente na pluralidade. Para além dos testemunhos escritos, os documentos ganham amplitude conceptual. Os registos orais, visuais, materiais, estatísticos, iconográficos e cartográficos passam a ser admitidos ao mesmo tempo que o facto histórico passou a ser considerado uma construção do historiador, adquirindo sentido na sua relação com o global. No limite, toda reflexão sobre o passado era uma construção social.
Outra implicação importante desta alteração de paradigma reside no facto do de o alargamento da noção de facto histórico implicar uma mudança na noção de tempo histórico. Se pode ser considerado histórico o facto político singular, que se sucede a um ritmo vertiginoso, o mesmo pode acontecer com o demográfico, o económico ou o cultural, que se repete durante décadas ou séculos. A conclusão é a de que a História não pode ser apenas mudança, mas também permanência. Braudel aperfeiçoou a ideia. A primeira duração é de tempo curto (é o tempo do indivíduo, do acontecimento), depois surge o tempo médio (o das conjunturas, das oscilações cíclicas da História económica e social) e por fim o tempo longo (da longa duração, das estruturas, das mentalidades, da amplitude secular).