Num campo político diferente situa-se Joaquim Pedro de Oliveira Martins (1845-1894). A sua historiografia perfila-se polemicamente contra o positivismo e o republicanismo. Partia de uma concepção sintética e apriorística da História. Pensador eclético e activista político, legou-nos, entre valiosos contributos, uma nova visão da História de Portugal em vários tomos, continuada por outra obra maior, o Portugal Contemporâneo, onde a história nos é apresentada em tom narrativo, sobretudo como uma “farsa” dela transparecendo uma visão altamente crítica sobre a evolução do reino e a elite governante do século XIX, no que também pode ser entendido como uma espécie de “ajuste de contas” entre o autor e a sua época, que nunca lhe retribuiu a importância que Oliveira Martins entendia possuir.
Todo este paradigma oscilando entre um positivismo e uma História Política Tradicional conheceria a sua crise existencial. As modificações introduzidas pela “modernidade” também afectaram a forma de pensar a História. O rápido desenvolvimento económico imposto às sociedades industrializadas e a consequente multiplicação da conflituosidade social acabaram por tomar o lugar anteriormente ocupado pelo Estado enquanto agente principal da mudança histórica. Em simultâneo, o advento das sociedades de massas veio mitigar a importância do individuo enquanto sujeito único da História. O progresso das Ciências em geral e das Ciências Sociais especificamente acabou por agravar os efeitos desta crise.
O método comparativo da Sociologia, por exemplo, conduziu às primeiras tentativas de integração do facto particular num contexto mais global. Este caminho vem a desembocar na “síntese histórica” de que os principais impulsionadores seriam nomes como Henri Pirenne (1862-1935) e Henri Berr (1863-1954), passando a questionar as filosofias idealistas da História. Berr propôs mesmo a integração do particular na totalidade, ou seja, sugeria a relacionação dos factos entre si numa perspectiva globalizante, cujo objectivo seria o da procura da síntese. Desta forma, a síntese surgia como hipótese científica que permitiria passar do descritivo ao explicativo, da cronologia à problematização.
Esta abordagem criou discípulos. Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre (1878-1956) seguiram o mestre Berr. A sua principal iniciativa residiu na celebrada fundação da “Escola dos Annales”, que veio proceder a uma ampla renovação da historiografia através da superação do “événementiel” e do permanente contacto com as Ciências Sociais. Esta evolução veio a afectar principalmente a História Política. Se por um lado, a História Económica, Social ou Demográfica beneficiaram com os progressos metodológicos da Economia, Sociologia ou Demografia, a História Política não se renovou da mesma forma pela ausência da constituição de uma Ciência Política. A História Política não acompanhou, assim, a renovação historiográfica proposta pelos Annales e entrou numa depressão de que levaria décadas até se recompor.