O último quartel do século XX seria marcado pela influência de historiadores como Joel Serrão (1919-2008), Jorge Borges de Macedo (1921-1996), Albert Silbert (1915-1996), Vítor de Sá (1921-2003), A. H. de Oliveira Marques (1933-2007), Miriam Halpern Pereira (1937-), ou César de Oliveira (1941-1997) que de pontos de vista diversos se destacaram pela abrangência das suas propostas metodológicas, cronológicas e temáticas, mas onde a análise do fenómeno político esteve sempre presente de uma forma mais próxima ou mais distante preparando o caminho, até pela antinomia, para a geração seguinte que viria a ser afectado por um outro contexto a nível internacional.
A partir de finais da década de 1980, sobretudo, após a queda do Muro de Berlim, embora as suas origens sejam ligeiramente anteriores, assistiu-se a um movimento de refluxo nesta evolução com a emergência da apologia ao regresso de uma Velha História Política como contraponto crítico à Nova História Política acima mencionada. A principal impulsionadora deste retorno “conservador” foi a historiadora norte-americana Gertrud Himmelfarb (1922-2019) com o seu The New History and the Old. Critical Essays and Reappraisals (Harvard University Press, 1987), onde veio defender a ideia de que só existe uma forma de fazer História: a narrativa dos acontecimentos políticos tal e qual eles aparecem descritos e traduzidos pelos documentos. Para Himmelfarb só o político é História e toda a História só pode ter por objecto de estudo o político. A Nova História, pelo contrário, tinha uma aversão natural ao domínio do político, embora os seus autores falassem basicamente a mesma linguagem. Pierre Nora (1931-) falava no “regresso do acontecimento”, Lawrence Stone em narrativas e Jacques Julliard em história política, mas esta Nova História Política por se apresentar demasiado próxima da Sociologia e por ser demasiado quantitativa tinha alguma repulsa pelo político. A opção era o retorno à narrativa, à descrição da sucessão dos acontecimentos encontrando-lhes um nexo causal que os unificasse. A História, assim pensada e escrita, não sendo ficção, esbatia a sua especificidade em relação à ficção. Para tanto contribuiu a tipologia de diferentes discursos historiográficos como retórica a que procedeu Hayden White (1928-2018) na sua obra Metahistory. The Historical Imagination in Nineteenth-century Europe (1973). Tinha chegado a vez de se anunciar o fim da História enquanto Ciência do Social. Mas esta corrente, que encontra os seus cultores também entre nós especialmente em autores como Vasco Pulido Valente (1941-2020), recusa a sua identificação como neo-positivista, porque mais do que ser meramente recolectora de eventos e procurar respostas para o questionário do historiador, que tem forçosamente de ser formulado no presente, propõe em alternativa expor os factos tal como eles estão registados nos documentos de forma encadeada e com uma pertinência significativa, aproximando-se da moral, da ética e dos valores da época. A nova narrativa deve ter por objecto a sucessão dos acontecimentos e já não apenas o acontecimento isolado. Com a narrativa regressa o arbitrário e o subjectivo, temperados pela heurística e hermenêutica, ou seja, por um método e por um conjunto indispensável de regras. Afinal, a História, enquanto humanidade, na sua origem e durante séculos, embora parente próxima na sua exigência de prova, e sobretudo a partir dos finais do século XVIII, autonomiza-se e diverge claramente da literatura, da oratória, da teologia, acentuando-se essa divergência a partir de finais do século XIX enquanto ciência social.