Todavia, o ataque à “História Política Tradicional” tinha antecedentes. A sua contestação teve origem em primeiro lugar no universo da corrente marxista. Para Karl Marx (1818-1883) os homens são os protagonistas da História, mas fazem-no segundo determinadas condições materiais da sua produção. Assim, é pela contradição entre “forças produtivas” e “relações de produção” que se criam situações revolucionárias, ou seja, que ocorre a mudança histórica. De acordo com tal perspectiva, não é a representação que determina a realidade, mas o seu contrário. Dito ainda de outra forma, não são as ideias políticas que determinam as realidades económicas, mas o oposto. Os sucessos e os insucessos das Revoluções de 1848 na Europa, o triunfo final das forças conservadoras e a evolução das sociedades capitalistas conduziram Marx a repensar o papel do indivíduo na História. Este autor veio relegar para segundo plano o voluntarismo individual em favor das massas, ou aquilo que ele chamava “as classes sociais”, como sujeito principal da História. Ainda para Marx, a História não seria mais do que a História da luta de classes. Por outro lado, o conceito de “modo de produção” veio permitir pensar a estrutura, o funcionamento e a dinâmica duma totalidade social. Este conceito seria aproveitado mesmo por não-marxistas, como Fernand Braudel (1902-1985), que considerou Marx como o primeiro pensador a fabricar modelos sociais a partir da longa duração histórica. Afinal, o “modo de produção” marxista pensava não o facto isolado, mas a totalidade social animada por um determinismo económico, como que alargando o lugar da História do político ao todo social, ao mesmo tempo que deslocava a dinâmica da mudança histórica do político para o económico. O desenvolvimento da historiográfica de inspiração marxista foi fundamental em França e explorado por figuras como Jean Jaurés (1859-1914), Albert Mathiez (1874-1932), Georges Lefebre (1874-1959) ou Ernest Labrousse (1895-1988), mas seria ignorado curiosamente na Alemanha (apesar da sua reelaboração efectuada pela chamada “Escola de Frankfurt”) e no mundo anglo-saxónico.
Alguma produção teórica inovadora seria tentada em outras geografias como em Itália com Antonio Gramsci (1891-1937) ou mesmo em Inglaterra, através da “New Left”, cujos principais nomes depois da II Guerra Mundial foram Eric Hobsbawm (1917-2012) e E. P. Thompson (1924-1993). Ao mesmo tempo, em França despontava outra geração de historiadores de inspiração marxista onde pontificaram nomes como os de George Duby (1919-1996), Pierre Vilar (1906-2003) ou Michelle Vouvelle (1933-2018). Sob a influência dos Annales, a História Social também se desenvolveu e ganhou destaque na Grã-Bretanha, sobretudo a partir do lançamento da revista Past & Present (1952), e das abordagens de historiadores como Christopher Hill (1912-2003), Lawrence Stone (1919-1999) ou Peter Laslett (1915-2001).
Em resultado de todas estas inflexões assistiu-se a um deslocamento do centro do estudo da História, que se transferiu do acontecimento político isolado para as estruturas económicas, para as classes sociais, para os fenómenos ideológicos e para o papel colectivo das massas, enquanto agentes transformadores da realidade. O político, porque desvalorizado, viu-se reduzido a um epifenómeno.