Os Annales vieram reclamar para a História um novo estatuto epistemológico – o de ciência. Como referimos anteriormente, assiste-se à passagem da “História Narrativa” à “História Problema”, ou seja, a História deixa de contar os factos tal e qual eles se passaram, para passar a formular hipóteses a comprovar pela investigação em busca de uma explicação e de um conhecimento objectivo tal como no paradigma científico. A História passa a assumir um carácter explicativo, responde às questões que são colocadas pelo historiador. Para tal, o ponto de início da História não é o facto, não é o acontecimento, mas sim o inquérito historiográfico, a famosa “pergunta de partida”, para a qual se procuram seguidamente respostas, sentido que aliás está presente no termo História já na antiga Grécia.
Enquanto a História Tradicional obedecia à lógica do recitativo que privilegiava o facto político, a História dos “Annales” tende para a lógica hipotético-dedutiva. Deixa de se procurar leis. Passa-se a tentar encontrar regularidades e permanências. O território anteriormente dominado por reis, heróis, nações, teatros de guerra e poder passou a ser povoado pela economia, pela sociologia e pela demografia produzindo um discurso historiográfico diferente.
Como ficou implícito, os “Annales” passaram por várias gerações. A primeira, como vimos, a de Bloch e Febvre, empenhou-se na produção de uma História Económica, Social e das Civilizações em busca de uma História Total. A seguinte, a de Braudel, veio acrescentar a introdução da Geo-História e da História Demográfica. Uma terceira geração, a da Nova História, já não totalizante, mas antes interessada em abrir fronteiras até então desconhecidas ou menos consideradas, as da História das Mentalidades, da Antropologia e Sociologia Históricas e da História Psicológica. Refira-se que em Portugal, sob a inspiração de Vitorino Magalhães Godinho, desenvolveram-se os estudos de Sociologia Histórica, mais próximos do campo político tomando como temas de estudo as eleições, o fenómeno do caciquismo, a organização dos parlamentos, a constituição e evolução dos partidos políticos e os mecanismos de reprodução das elites políticas.
O balanço a fazer também teve consequências no domínio da História Política. A variante ganhou uma nova função, pois o historiador deixou de fornecer argumentos à nação ou ao poder, deixou de alimentar a sua necessidade de legitimação retrospectiva para, em alternativa, passar a fornecer os meios para melhor compreender e gerir a realidade social. O conhecimento científico dos mecanismos sociais devia permitir elaborar soluções técnicas e não justificar escolhas políticas. O político, entendido desta forma, não permitiria penetrar no cerne da realidade histórica, até porque o discurso ideológico tornava a História Política incompatível com qualquer estatuto científico.