As regras da produção historiográfica daqui derivadas baseavam-se em dois produtos. A grande síntese nacional ou universal e o manual escolar. As primeiras eram centradas sobre as entidades nacionais – os Estados e os seus heróis – e ocupavam-se de traçar a genealogia dos gloriosos antepassados, de que os contemporâneos não seriam mais do que os legítimos herdeiros e continuadores. A História aproximava-se da Epopeia. Já os manuais escolares, embora obedecessem à mesma lógica, eram despovoados de aparato erudito, redigidos na base do culto da Pátria e das suas figuras proeminentes, valorizando o presente, de modo a serem entendidos por todos. Havia aqui uma clara recognição entre o sentimento de pertença a uma comunidade – a nação – e a partilha de um passado comum, quase imaculado, onde os desvios, assim compreendidos à luz do entendimento que no presente se tinha dos tempos anteriores, eram subalternizados em função dos sucessos alcançados, que mereciam ser destacados uma vez que eram esses feitos que conferiam um substrato identitário à colectividade.
De acordo com este ponto de vista, a História cumpria uma função. Para além do exercício historiográfico, propriamente dito, a História legitimava politicamente o contemporâneo. Se não o fizesse não executava o seu papel. A História tinha, pois, este carácter utilitário. Se o Estado se afigurava como o lugar da mudança histórica e o homem, individual e voluntariamente, era o seu sujeito, então a História aparecia como a sucessão dos grandes acontecimentos protagonizados pelas grandes figuras. Em termos políticos, a História cumpria a tarefa de transmitir os valores culturais e políticos de um povo através do estudo do seu passado. Era como se houvesse uma ligação umbilical e indissolúvel entre gerações, entre os antepassados notáveis e os contemporâneos, seus orgulhosos continuadores.
O panorama historiográfico português acompanhou também este conjunto de transformações e constantes mudanças de pele do campo disciplinar. O principal arauto de uma abordagem positivista da História política em Portugal seria Teófilo Braga (1843-1924). Conhecido rosto do republicanismo e com uma vida pública particularmente empenhada, tendo vindo a ocupar importantes cargos no directório do Partido Republicano Português e já depois de 1910, enquanto líder do governo provisório, dos seus muitos trabalhos, podemos aqui destacar, entre outros trabalhos de monta, a sua História das Ideias Republicanas em Portugal redigida de acordo com esta abordagem. Na mesma linha, conseguimos posicionar José de Arriaga (1848-1921) que os deixou valiosos contributos sobre a Revolução de 1820, sobre o Setembrismo e as décadas finais da Monarquia Constitucional e ainda Basílio Teles (1856-1923) que dos seus muitos escritos, nos deixou Do Ultimatum ao 31 de Janeiro (Esboço de História Política) redigida também num tom politicamente comprometido com o republicanismo.