Num tempo de maturação intelectual ainda anterior a este, na primeira metade do século XVIII, a História que se fazia em Portugal estava mais próxima da cronística antiga sem quaisquer outras grandes preocupações que não fossem as de fixar os feitos das grandes instituições ou das personalidades célebres, das congregações religiosas ou da Universidade de Coimbra, por exemplo, passando pelos acontecimentos notáveis dos vários reinados. Inserem-se neste contexto autores como Francisco Leitão Ferreira (1667-1735), membro ativo da Real Academia de História, Frei Manuel dos Santos (1672-1748) ou José Soares da Silva (1672-1739), também ele fundador da Real Academia de História. Outras figuras importantes desta época foram as de António Caetano de Sousa (1674-1759) que trabalhou sobre genealogias da Casa Real, ou a de Frei Manuel da Rocha (1676-1744), medievalista de algum mérito.
A geração seguinte abre com a figura de Pascoal de Melo Freire (1738-1798), apontado como um dos fundadores da História do Direito em Portugal, seguindo António Caetano do Amaral (1747-1819) este mesmo caminho ao estudar a História da legislação com incursões pela patrística medieval. Enquanto isso, João Pedro Ribeiro (1758-1839) veio a destacar-se por ser considerado o fundador da disciplina de Paleografia e Diplomática, de que foi professor, prestando um contributo assinalável para o desenvolvimento dos trabalhos históricos Oitocentistas subsequentes. A História da Diplomacia desenvolveu-se também a partir dos trabalhos fundadores do 2.º visconde de Santarém, D. Manuel Francisco Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa (1791-1856), cujas preferências políticas alinhadas com uma facção do miguelismo são também conhecidas. No campo da História do Direito e da Legislação há ainda a assinalar os trabalhos de Manuel António Coelho da Rocha (1793-1850) e de destacar a importante figura de Simão José da Luz Soriano (1802-1891), que acabou por se tornar numa espécie de historiador oficioso do regime liberal nascente. Da sua vasta obra teremos sempre de relevar a História do Cerco do Porto (1846-1849), em dois volumes e, entre outras, a exaustiva História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal (1866-1890), em 17 extensos volumes, trabalho que acabou por funcionar como uma autêntica História de Portugal dada a amplitude do arco cronológico tratado, apesar do título do trabalho. Estes eram os tempos das grandes súmulas da História nacional.
Não tardou a que o século XIX nos legasse historiadores que acompanharam este movimento a nível interno. Dois dos principais ideólogos do liberalismo político em Portugal ajudaram a fixar a imagem das lutas entre liberais e miguelistas, assim como do regime revolucionário emergente. Almeida Garrett (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877) contribuíram decisivamente para determinar uma interpretação sobre a acção dos vencedores da guerra civil e do regime a que estes deram origem. O primeiro foi celebrado essencialmente como dramaturgo e escritor maior do romantismo português, mas o seu papel enquanto político activo e, sobretudo, como comentador da Revolução Liberal, contribuiu em muito para a elaboração de um conjunto de representações sobre a História política do seu tempo. Mais do que um historiador da política, Garrett encarregou-se de nos transmitir uma visão pessoal dos acontecimentos em que participou directa e indirectamente e esse testemunho iria influenciar as gerações que se lhe seguiram, constituindo um bom ponto de observação de tais momentos decisivos. De Alexandre Herculano pode-se dizer aproximadamente o mesmo com a enorme diferença de que este foi um historiador que se inscreveu perfeitamente nos ares que marcaram a disciplina na sua época, tanto ao nível da sua concepção como no método crítico sendo responsável, entre muitas obras pioneiras, pela elaboração da primeira grande História de Portugal digna desse título. O historicismo romântico encontrava aqui o seu grande cultor nacional.