| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
SILBERT, Albert | |||||||||||||
O que não invalida a pertinência da observação, em que transparece alguma mágoa, que fez na entrevista de 1985 à Ler História ao referir os seus estudos sobre o Auvergne destinados a acompanhar os trabalhos dos seus estudantes: “… um professor da universidade, na província, deve animar a pesquisa regional. É preciso encontrar temas para os estudantes de maitrise e de doutoramento que trabalham na região. Tive muitos e tornei-me especialista de história contemporânea de Auvergne. Tive menos possibilidade de formar historiadores portugueses” (Entrevista à Ler História nº 5 (1985), p. 123). Que Albert Silbert, com o enorme conhecimento da história de Portugal de que dispunha, tenha tido poucas possibilidades de formar directamente historiadores portugueses, depois do fim do regime ditatorial que tinha levado tantos investigadores a exilarem-se é, sem dúvida, motivo de reflexão. As contingências do ensino e da pesquisa universitários num período em que as fronteiras nacionais eram muito mais estanques do que o são hoje, tanto em termos de áreas de investigação como de modos de organização da docência e da pesquisa, contribuem, sem dúvida, para o explicar. Nos nossos dias haveria possibilidades quase inexistentes nos anos 70 e 80 do século passado de estabelecimento de parcerias universitárias internacionais e de redes de pesquisa. No entanto, este breve desabafo do grande historiador francês pode ainda entender-se a outra luz: Albert Silbert, apesar de toda influência que os seus estudos tiveram na historiografia portuguesa e noutras áreas das ciências sociais em Portugal, nunca foi um “maître à penser” para os investigadores portugueses que o leram e que com ele contactaram. Na verdade, nunca terá querido desempenhar esse papel para o qual não parecia ter vocação. Era demasiado analítico, meticuloso e modesto para jogar esse jogo. Se assim não fosse não teria enveredado pelo tipo de estudo que mais cultivou e a que mais anos da sua vida consagrou: duas regiões rurais pobres de um país periférico. Essa escolha foi pesada de consequências e implicou que nunca viesse a ter no seu país o reconhecimento público que merecia. A sua opção por uma discreta posição teórica e ideológica dificilmente permitiria, também, que tivesse vindo a desempenhar na historiografia portuguesa daqueles anos um papel semelhante ao que Pierre Vilar desempenhou na historiografia espanhola. |
|||||||||||||