A acção dos editores influi directamente no desenvolvimento da historiografia. Sendo o livro um dos principais meios para a transmissão do conhecimento histórico, os agentes que lhe dão forma tornam-se também actores dessa transmissão, seja na escolha do que se publica e traduz, do que se promove ou do que se rejeita. E têm a sua própria história. Procuramos, por isso, desenhar uma panorâmica geral, em traços breves, sobre a edição de estudos de história e fontes (uma pequena parte do mundo editorial como um todo) em Portugal, entre 1779 e 1974, abordando o percurso de alguns dos editores e das instituições que os publicaram.
Duzentos anos é muito tempo e, como seria de esperar, muitas são também as mudanças. Muda o leitor, muda o editor, muda o próprio livro. No século XVIII, é ainda um objecto de produção artesanal, quase de luxo, para um público diminuto, letrado. E o editor, tal como hoje se entende, é uma figura inexistente, cuja acção se reparte entre o livreiro e o impressor – muitas vezes a mesma pessoa. Na segunda metade do século XX, a situação é outra. O livro é produzido industrialmente; editor, livreiro e impressor são profissões separadas, com fronteiras definidas e reconhecidas. O público potencial, naturalmente, já não é uma pequena elite, alargou-se, massificou-se. Contudo, há também elementos que permanecem. Por exemplo, a existência de uma larga percentagem de população analfabeta, embora variando consoante o sexo e a região. Em 1900, havia ainda um total de 78,6 % de analfabetos e no início do século rondaria os 90 % (M. M. Tavares, “Livros…”, 1999, p. 189); segundo os censos de 1970, a percentagem seria de 25,7 %; ou seja, embora tendo diminuído, continuou elevada, prejudicando a estruturação de um mercado mais sólido. Por não ser um campo à parte no mundo do livro, compreender como se editava a história passa primeiro por perceber como, em geral, mudou a edição e o papel do editor ao longo destes dois séculos. A publicação de livros de história e de fontes insere-se nessas mudanças e continuidades, numa interacção constante entre as metamorfoses da própria disciplina, da edição e do ambiente cultural vivido no país.