Embora a Ática, de Luís de Montalvor (1891-1947), tenha assumido uma faceta mais literária (foi a primeira a editar sistematicamente Fernando Pessoa), merece ser referida, pois deve-se a ela a publicação de duas obras historiográficas de valor, mas de orientação bem diversa: História do Regime Republicano em Portugal (1930-1932, dois volumes), organizada pelo próprio Luís de Montalvor (e que esteve na base da criação da editora), e a História da Expansão Portuguesa (1937-1940, três volumes), dirigida por António Baião, Hernâni Cidade e Manuel Múrias. Depois da morte do fundador, a Ática mantém-se em funcionamento. (A. Anselmo, Idem, 2015, pp. 163-166.)
A «Biblioteca Cosmos», da Edições Cosmos, de Manuel Rodrigues de Oliveira (1911-1996), deixou uma herança indelével. Talvez mais a colecção do que a própria editora. Primeiro, pelo êxito: entre 1941 e 1948, lança 114 títulos, num total de 793 500 exemplares, com uma média de 6960 exemplares por título. Depois, pelo projecto político-cultural em que se fundava, pelo relevante número de intelectuais portugueses que nela publicou (apenas 19 livros foram traduzidos), quase sempre figuras avessas ao regime, e pelo seu director, Bento de Jesus Caraça (1901-1948), catedrático de matemática, figura de primeiro plano na vida cultural e política da época. Apesar de se assumir como continuadora da «Biblioteca do Povo e das Escolas», a colecção não se limitou a agregar um conjunto de obras informativas, antes a materializar um projecto cultural que passava pela difusão em larga escala do conhecimento científico. Bento de Jesus Caraça assume uma estratégia bastante interventiva ao dirigir a colecção, não só pela escolha e rejeição de obras, como também pela encomenda de textos e por pedidos de revisão extensiva dos trabalhos submetidos, com o propósito de manter uma elevada coerência editorial. (N. Medeiros, Idem, 2010, pp. 150-158.)
A colecção dividia-se em sete secções: «Ciências e técnicas» (48), «Artes e letras» (20), «Filosofia e religião» (3), «Povos e civilização» (6), «Biografias» (5), «Epopeias humanas» (1) e «Problemas do nosso tempo» (23). Come se percebe, o grande interesse de Bento de Jesus Caraça é a divulgação da ciência, que ocupa quase metade do catálogo. Mesmo assim, a história também marcou presença com, por exemplo, Armando Castro, Introdução ao Estudo da Economia Portuguesa (Fim do Séc. XVIII a Princípios do Séc. XX); Flausino Torres (Civilizações Primitivas, Religiões Primitivas), José de Freitas (A China Antiga e Moderna. E a obra marcante de Condorcet, Quadro dos Progressos do Espírito Humano (com introdução de Vitorino Magalhães Godinho) ou L. Adam (Arte Primitiva). (J. Neves, “A Biblioteca Cosmos”, 2006.).