Mas a edição não é um espaço reservado apenas à actividade privada, empresarial, e às contingências do mercado. É também um espaço de intervenção pública, directa ou indirecta – daí a actuação do Estado enquanto editor ou patrono de edições. Isto tendo sempre em conta que a autonomia editorial depende da autonomia estatutária de cada instituição e dos seus responsáveis face ao poder político. No campo específico da história, essa acção é bem visível, particularmente no caso de trabalhos de cariz erudito. Para tanto, o Estado usa vários entes públicos. Além da Imprensa Nacional, também a Academia das Ciências e a Imprensa da Universidade irão promover o lançamento de uma quantidade assinalável de estudos historiográficos, bem como de fontes. A sua marca é relevante, não só porque assumiram o custo de obras com pouca viabilidade comercial, como por uma parte considerável dos historiadores portugueses, entre 1779 e 1974, ter publicado em pelo menos uma destas instituições nalgum momento das suas vidas. Também as comemorações são um momento relevante da acção estatal, seja pelo patrocínio de obras ou porque cria no público apetência por certo tema, aumentando as vendas, como pela constituição de chancelas das comemorações, que também editam. Contudo, esta acção também pode ser negativa, devido à censura ou a outras restrições (licenças e autorizações especiais, por exemplo), como aconteceu em vários momentos deste recorte cronológico, com destaque para o Estado Novo, quando os editores se viram a braços com várias e graves limitações à sua actividade.
A Academia das Ciências desempenhou um papel importantíssimo na historiografia portuguesa a partir dos finais de Setecentos e ao longo de toda a centúria seguinte. Esta centralidade é facilmente visível no seu catálogo. A política editorial da Academia não se limitou à edição de recolhas monumentais de fontes, tendo também promovido a publicação de alguns estudos historiográfico, além de material relativo à vida quotidiana da instituição, como os elogios académicos. Nota-se, contudo, alguma perda de importância editorial a partir do século XX. Aliás, em 1910, uma das primeiras medidas da República passou pela extinção da tipografia da Academia, incorporando-a, com os respectivos trabalhadores, na Imprensa Nacional.
Contudo, já antes os prelos académicos se haviam destacado na produção de livros de história. É dali que sai, por exemplo, a Portugaliae Monumenta Historica (a partir de 1856, em 22 volumes), editada por Alexandre Herculano e continuada depois da sua morte; a Colecção de Livros Inéditos da História Portuguesa (em cinco volumes) ou outras obras de grande dimensão, como, por exemplo: Quadro Elementar das Relações Diplomáticas de Portugal (1842-1876, em 18 volumes, 12 dos quais pela Academia),coligida pelo visconde de Santarém e, depois, por L. A. Rebelo da Silva e José da Silva Mendes Leal; Corpo Diplomático Português (1862-1891, 15 volumes), compilada por L. A. Rebelo da Silva, José da Silva Mendes Leal, entre outros; ou História dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos de Portugal (1871-1893, 18 volumes), de José Silvestre Ribeiro. São edições monumentais, eruditas, que dificilmente poderiam ver a luz do dia se não fossem editadas por uma instituição pública, por ser difícil garantir a sua viabilidade comercial.