Apesar de tudo, nota-se uma tendência para popularizar o livro (esforço sempre limitado pelas altas taxas de analfabetismo) a partir de meados do século. Criam-se, por exemplo, colecções de feição popular, mais baratas, como, entre outras, a «Livraria Clássica Portuguesa», de António e José Feliciano de Castilho, antologiando textos de autores clássicos portugueses com introduções histórico-literárias (M. L. Santos, Idem, 1985, pp. 229-230), ou a «Biblioteca Económica», de Eduardo de Faria, possivelmente o primeiro a usar o modelo de venda através de fascículos. Publicou assim uma História de Portugal, ilustrada, de Francisco Duarte de Almeida Araújo, em fascículos de 80 páginas. (A. Anselmo, Idem, 1997, pp. 143-145.) Ou ainda, entre outras, «Educação Popular», de Pinheiro Chagas (nos anos 70), ou a «Propaganda Democrática», de Consiglieri Pedroso, dando ambas grande importância a temas históricos, com propósitos de divulgação. Regista-se ainda um maior uso da ilustração para chegar a mais leitores – e que é uma grande aposta dos editores de livros de divulgação histórica, como se pode ver, por exemplo, na segunda edição da História de Portugal, de Pinheiro Chagas, “popular e ilustrada”, com 540 reproduções de gravuras e 309 vinhetas; ou na terceira, com ilustrações do conceituado Roque Gameiro. (S. C. Matos, Historiografia…, 1998, pp. 155-161.) Poder-se-ia ainda referir outras, como: «Pecúlio do Recreio», 200 romances editados por Francisco Rolland e Semiond; «Livrinhos de Ouro», de Castilho; ou «Livros para o Povo», de A. Teixeira de Vasconcelos. (M. M. Tavares, Idem, 1999, pp. 199-200.)
Os fascículos (ou cadernetas, conforme se dizia à época) tornaram-se o meio privilegiado para fazer chegar o livro a mais pessoas. Os leitores compravam e coleccionavam os fascículos, que chegavam periodicamente ao mercado, encadernando-os. Uma ideia simples que permitia ao editor reduzir o investimento; e ao leitor, comprar a prestações – através de agentes espalhados pelo país, que escoavam o que se produzia. Foi este o modelo seguido, por exemplo, pela Empresa da História de Portugal, que assim distribuía as suas publicações, granjeando algumas um êxito assinalável (A. Anselmo, Idem, 1997, pp. 143-149), nomeadamente a História de Portugal, de Pinheiro Chagas. Ou a História de Portugal,pela Empresa Literária de Lisboa, de António Enes, entre outros (6 volumes, 1876-1883, ilustrados). O formato irá persistir em Portugal até aos anos 70 do século XX, permitindo apostar em obras de maior dimensão, nomeadamente enciclopédias e dicionários (como o Dicionário de História de Portugal, 1963-1971, de Joel Serrão, ou o incompleto Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e da Teoria Literária, 1977, de João J. Cochofel) sem esgotar os recursos das empresas. (N. Medeiros, Idem, 2010, p. 164.)