A origem da Bertrand remonta ao século XVIII, a uma das famílias francesas que dominavam o comércio do livro em Portugal. Acompanhou todas as mudanças que se verificaram no sector, continuando sempre a laborar. A data de fundação não é fácil de estabelecer. A primeira menção a um Bertrand (possivelmente Martinho Bertrand) data de 1742, num anúncio da Gazeta de Lisboa, associado a Pedro Faure Legendron, proprietário de uma loja de estampas desde pelo menos 1727. Na década seguinte, em 1754, conhece-se um anúncio a publicitar a venda do Dicionário de Francês, do padre José Marques, na loja dos irmãos Bertrand – Martinho e João José –, sociedade que se desfaz pouco tempo depois, visto que em 1756 já só se menciona o nome de João José. Neste momento, é já segura a presença dos Bertrand no negócio do livro. Os filhos e a mulher de João José manter-se-ão no ramo: em 1779, surge a designação Viúva Bertrand & Filhos, que se irá manter durante quase um século. Os netos assumem a empresa entre 1815 e 1873, quando o último, Francisco Bertrand, morre. Serão estes os editores de Herculano, por exemplo, com quem mantinham boas relações. A empresa foi depois adquirida aos herdeiros, em 1876, pelo conselheiro Augusto Saraiva de Carvalho e o seu sócio, o sindicalista José Fontana, que nesse mesmo ano se suicida na livraria. Augusto Saraiva mantém aberta a editora até a vender a José Basto, que ali havia trabalhado e que dinamizará bastante o negócio. A empresa continua a mudar de mãos: em 1910, é vendida a Júlio Monteiro Aillaud; em 1933, transforma-se em sociedade anónima, comprada depois por um livreiro francês, Marcel Didier, que a irá vender a Manuel Bulhosa em 1969. E é com este proprietário que chega a 1974. (F. Guedes, O Livro e a Leitura…, 1987, pp. 15-44.)
Do catálogo da Bertrand, saltam de imediato à vista dois nomes incontornáveis e que, por razões bem diversas, são também os dois historiadores portugueses oitocentistas mais marcantes, cujos livros foram sendo reeditados comercialmente até hoje: Alexandre Herculano e J. P. Oliveira Martins. Para não ser fastidioso, cite-se do primeiro, além da obra literária, a História de Portugal – então com grande saída –, a História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal ou os Opúsculos. Do segundo, refira-se a colecção «Biblioteca de Ciências Sociais», na qual edita, a partir de 1879, títulos seus, como História de Portugal, História da Civilização Ibérica ou Portugal Contemporâneo, entre outros, de variadas temáticas.