A influência de Alexandre Herculano (1810/1877) teve consequências pelo pioneirismo da sua obra e pelo que representou de rigor e modernidade na conceção de uma história de base documental e crítica (Sérgio C. Matos, Idem, p.27). Ao declarar que o mister da História é “averiguar qual foi a existência das gerações que passaram” e que “quem se ocupar da história portuguesa há de sepultar-se nos arquivos públicos e descobrir entre milhares de pergaminhos (…) aquele que faz ao seu intento; (…) há de avivar as inscrições, conhecer os cartórios particulares das catedrais, dos municípios e dos mosteiros; há de ser paleógrafo, antiquário, viajante, bibliógrafo, tudo” (vol. I, pp. 19, 23), Herculano contribuiu decisivamente para a profissionalização e a autonomização do estatuto de historiador.

No que às instituições diz respeito, a sua História de Portugal, embora não ultrapasse o século XIII, traça um quadro geral do funcionamento da monarquia e dos organismos do poder central, mas é sobre o municipalismo que o seu trabalho atinge dimensão maior, dada a importância que atribuía às instituições locais no desenvolvimento do país e no combate ao centralismo político que considerava um entrave ao progresso nacional. Depois de traçar um minucioso quadro das origens e da evolução dos municípios, as instituições concelhias são caracterizadas em todas as suas competências e contornos legais, bem como o conjunto das autoridades locais e o corpo de funcionários. Salienta o papel dos forais enquanto cartas fundadoras de municípios e instrumentos de direito público local. Herculano criou, pois, um quadro historiográfico que seria seguido pelas gerações futuras de historiadores das instituições municipais. O rigor, a erudição e a exigência documental como critério de legitimação da obra historiográfica condicionaram também a dedicação de Herculano na compilação dos Portugaliae Monumenta Histórica, obra que pretendia colocar Portugal ao nível dos países europeus onde os estudos históricos conheciam maior desenvolvimento.

Alexandre Herculano não deixou de ser também um divulgador da história, quer na imprensa periódica, quer na novela histórica que tão bem cultivou, uma vez que atribuía à história uma função cultural e cívica, essencial ao restabelecimento da confiança nacional e à regeneração do país.

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