Não sendo a Seara Nova uma publicação destinada a revelar colaborações de teor histórico, não sendo a História enquanto saber específico preocupação dos que na revista militam e escrevem, no entanto a História ocupa lugar destacado no pensamento dos seareiros. Porque a História não pode ser arredada nem menos considerada quando se pretende uma visão interpretativa da sociedade no seu conjunto e, sobretudo, quando essa visão se constrói para desencadear uma intervenção pública reformadora. Partir da sociedade, tal como se interpreta, implica uma visão do passado. Pelo que aos seareiros competirá reler e reinventar as explicações necessárias. Logo em 1923 Jaime Cortesão mostrava a necessidade da história: “A crise nacional é imensa e vem de longe. Portugal, que foi outrora uma das nações mais gloriosas do mundo, vive hoje no maior descrédito do estrangeiro. Permite-nos o estado actual dos estudos da história portuguesa afirmar que as bases desse esplendor passado foram a organização das classes pelo trabalho, uma fórte disciplina social e a posse de uma numerosa élite de políticos, de sábios, artistas e homens de acção educados na escola da dura experiencia e do sacrificio.” (Cortesão, “Intuitos”, pp. 5-6). Amplo leque de questões e dificuldades do presente com raízes no tempo passado. Que seria preciso fundamentar para corrigir e ultrapassar.
A interpretação da História de Portugal que dominava entre os intelectuais portugueses quando se inicia a publicação da Seara Nova, em outubro de 1921, apoiava-se ainda em Oliveira Martins (com raízes em Herculano), tanto na História de Portugal (1879) como no Portugal Contemporâneo (1881). O que implicava uma visão da Pátria como vítima de um Estado em decadência, depressão que se ia acumulando e agravando ao longo dos séculos, depois de fechado o período áureo do século XV e primeira metade do século XVI. O que se conformava com a apreciação da realidade que os reformistas seareiros percepcionavam na sociedade portuguesa sua contemporânea. Visão que queriam devidamente apurada para a eficácia do que empreendessem com finalidade reformadora.
Como muitas vezes se lerá em ensaios de António Sérgio (e sempre com referência a Goethe), “escrever história é uma maneira de nos libertarmos do passado.” Só assim poderíamos alijar o peso a que o pretérito nos condenava.