E nisso estariam conformes o ensaísta Sérgio e o historiador Cortesão. Para por efeito de um trabalho intelectual aturado, conseguir que o país se modificasse e que os que nele habitavam gozassem de uma outra abundância gerada no trabalho produtor de riqueza e alicerçada na liberdade.
Era, afinal, a tal “revolução espiritual e construtiva” em que os seareiros se empenhavam. (Sérgio, Correspondência, p. 38). Arredando os fantasmas do passado, que se procurava conhecer e interpretar, para melhor deles se afastarem. Sem querer a eles voltar. Porque, confessará Cortesão, “nação alguma pode viver perpétua e exclusivamente sobre as tradições próprias.” Havia que partir de uma interpretação histórica fundamentada “para que não se caísse num tradicionalismo basbaque de narcisos.” (Cortesão, “No 40º). Assim foi tentado. Havia que combater o “nacionalismo” que Raul Proença classifica de “retrospectivo e sensibilista, vivendo dos mortos e da memória dos mortos, como uma espécie de necrolatria, que nos levava à constante memoração e comemoração das glórias passadas.” (Proença, Páginas, IV, p. 17). Pelo contrário para os seareiros a história impunha uma visão crítica e incitava a uma prospectiva clarificadora e reformadora da sociedade. E a “reforma mais importante – condição preliminar de todas as outras – é sempre a reforma da mentalidade.” (Sérgio, in Seara Nova, p. 37). Reforma nacional que Raul Proença indica como devendo ser uma “modificação estrutural, orgânica, da nossa vida colectiva.” (Proença, Páginas..., 2ª série, p. 257). Propósitos e trajectória que a ditadura impiedosamente interrompeu.
Embora condicionada e sempre atentamente vigiada, a revista continuou a albergar ensaístas e outros escritores e aceitou escritos históricos, sobretudo de história contemporânea, de autores como Fernando Piteira Santos, Joel Serrão, Joaquim Barradas de Carvalho ou José Manuel Tengarrinha – alguns usando pseudónimos. Com a direcção de Augusto Casimiro (1961-1967), Rogério Fernandes (1967-1969), Augusto Abelaira (1969-1973) e Manuel Rodrigues Lapa (1973-1975) manteve as mesmas orientações propugnando pela instauração da democracia – sem se definir por uma forma concreta dadas as diferentes posições políticas e ideais sociais que nela convergiam.