Em simultâneo, havia que combater o romantismo delirante que se instalara em Portugal, com a incapacidade criadora que o acompanhava – ou causava. “Esse romantismo, tornando-nos incapazes de modificar o presente e preparar o futuro, impede-nos igualmente de apreciar inteligentemente o passado.” Assim se pronunciava pelo seu lado Raul Proença, acrescentando: “Vemos nas empresas dos nossos avós, em D. Henrique, em Nuno Álvares, nos infantes de Ceuta, simples aventuras do sensibilismo triunfante, do misticismo desgarrado, de intuições bergsonianas, vozes da Raça, purezas esfíngicas, poços artesianos de sensibilidade criadora.” Mas, contrapõe o seareiro, “todas essas empresas foram obras de organização meditada e metódica, dum elevado espírito prático, realizadas com todos os escrúpulos, todas as minúcias e todas as circunspecções da inteligência realista.” (Proença, Páginas, 2ª série, p. 158).
Era esta a posição da Seara Nova sobre a História, afastando-se e combatendo vácuos arroubos líricos e invocações passadistas – mesmo quando embalados em belezas poéticas saudosistas ao jeito de Teixeira de Pascoaes. Porque para os seareiros havia que regressar ao espírito do 5 de Outubro, mas “regressar avançando”, como no manifesto inicial da revista se lê. Pelo que as fantasias romanticizadas com apoio na história deveriam ser combatidas. É o objectivo de António Sérgio atacando o irracionalismo e o sentimentalismo patriótico a pretexto da Exortação à Mocidade de Carlos Malheiro Dias, em 1924. Ataque e polémica que culmina em primorosa Tréplica. (Sérgio, O Desejado; Dias, Exortação; Sérgio, Camões; Idem, Tréplica; Castro, À margem). Polémica que se destinava, como tantas outras posições da Seara Nova, a proporcionar uma “lenta obra de educação colectiva.”
Ao arrebatamento romântico contrapropõe-se a reflexão, as disciplinas racionais, “o esforço sobre si próprio, do sentimento da medida, da visão clara, da modéstia e do senso crítico.” (Reis, Raul, p. 17). Para Vitorino Nemésio, ainda estudante de Coimbra, estava-se perante o confronto entre “um bom servidor da razão” e um “fantasiado de paladino”, “com sinais manifestos de embriaguez heróica.” Mário de Castro prefere “um conflito entre dois tipos de mentalidade, no qual o fantasma de D. Sebastião surge como mero reagente precipitador.” (Castro, À margem, pp. 5 e 9).