Deste mesmo ano será o escrito que é o culminar desta primeira fase da obra de Cortesão, “uma das suas obras-primas e um dos momentos cimeiros da historiografia portuguesa” do século XX, “Os Factores Democráticos na Formação de Portugal” (Godinho, “Presença”, p. XIII).
Cortesão vai procurar no percurso da ocupação do território com a articulação dos modos de vida da população das várias regiões a emergência da nacionalidade. A comunidade constituía-se a partir dessa junção de proveniências sociais diversas. Contando ainda com alguma colonização estrangeira. E, como sempre fará, procurando também na Sociologia teorias que servissem o seu propósito. Buscando nos geógrafos e nos sociólogos e um pouco nos economistas (embora apenas quase só pelo que toca ao comércio) apoios para encontrar as razões que permitissem explicar a génese da Nação. Deixam de se procurar motivos mais ou menos intemporais e imaginários – e sempre com impossibilidade de se provar a sua adequação – para se avançar no conhecimento da administração do território.
Ponto central para explicar a afirmação nacional, no século XIV, a “profunda renovação económica do País.” Era a resposta à procura externa de vinhos e sal, de azeite e de frutas. Assinalava-se ainda a exportação de mel, cera, coiros, peles e lã. E a junção da economia do interior com a do litoral vai efectuar-se. “No interior a faina agrícola e pastoril; na costa a exploração do sal e a pesca que se estendia do nosso litoral ao estrangeiro.” Estava assim “criado o novo género de vida nacional: o comércio marítimo a distância, com base na agricultura”. “Em Portugal é do próprio movimento das comunas que vai nascer o conceito supremo da Nação; e apenas desaparecidas as causas que entravaram aqui, mais ainda do que no resto da Europa o desenvolvimento das classes populares, os princípios democráticos vão retomar a sua marcha até o advento da República.” Procurava assim aquilo que se poderia designar por “concepção democrática da história portuguesa?” É possível. “Mas em qualquer ciência o que importa é que as suas concepções sejam...científicas.” Relevo especial será dado à revolução de 1383: “Portugal entra na maioridade; na sua política interior dominam as tendências laicistas e civilistas, condição essencial para a dignificação e liberdade dos povos; e o Estado atinge a forma de organização que lhe permite resolver o grande problema da expansão da Europa e do conhecimento do planeta.” (Cortesão, Os factores, pp. 14-15, 89-91 e 157).