Depois da guerra (1914-1918) o confronto agreste entre Cortesão e Sérgio nos primeiros tempos da Águia atenua-se até quase desaparecer. Em ambos encontra o papel reservado ao conhecimento histórico na fundamentação da actividade reformadora pretendida pela Seara Nova. Que resulta muito menos visível em Raul Proença, embora não ignorada – basta referir como de imediato acolhe a argumentação de Sérgio no ensaio sobre a tomada de Ceuta. (Amaro, A Seara, p. 65). Para além de diferenças de interpretação e de acentuação de características que se querem distintas, os seareiros convêm ao considerar imperioso travar a decadência em que se marasmava. E do passado pátrio invocam os defeitos graves que avultam e podem dizer-se estruturantes. Algumas frustrações mais tarde, a interpretação do passado ir-se-á tornando mais complexa e procurando ser mais explicativa.
Para Sérgio como para o grupo dos seareiros (em que o ensaísta se incorporará em 1923), a concepção do passado da nacionalidade passa, sempre, por uma visão crítica da estrutura do Estado e em especial por sublinhar o papel negativo que os grupos sociais dominantes têm exercido sobre a grei. Como um jovem seareiro escreverá: “Tradição em Portugal é o parasitismo comunitário do Estado, o desequilíbrio formidável das profissões, que deram no desaproveitamento das nossas riquezas naturais, e, todavia, há muito que essa tradição está diagnosticada como a principal doença portuguesa.” (Castro, À margem, p. 2). Mesmo do triunfo da burguesia em 1383 vai resultar contraditoriamente que se incremente e se torne predominante a classe dos letrados, “a um tempo um efeito e uma causa do parasitismo social.” E conclui sobre este segundo período: “A nação, portanto, não chegou a educar-se na disciplina do trabalho, precocemente absorvida na especialidade mercantil das especulações de entreposto, intimamente ligada à obra da Cavalaria; este facto, a ruína da nobreza antiga, o agravamento da miséria agrícola, e o correlativo parasitismo bacharelesco e burocrático, são os caracteres maiorais do novo regime inaugurado pela revolução social de 1383-1385.” (Sérgio, Considerações, pp. 16, 18 e 19-20).
A expansão ultramarina faria com que crescessem os tratos dos escravos, dos produtos das ilhas (açúcar da Madeira) e africanos, em especial o ouro, o que permitia ao soberano gastar os seus fartos rendimentos.