E depois da viagem do Gama, com o estabelecimento da Rota do Cabo, serão a pimenta e as riquezas orientais a ser trazidas para Lisboa. Com benefícios para outras sociedades, pois não havia produtos fabricados em Portugal com que pagar as mercadorias entradas. Havia também que considerar que o Estado estava sempre no centro do que ocorria na evolução da história pátria: porque dele tudo dependia. “Este estadismo, ou costume de recorrer ao Estado para ele tratar da nossa vida, transformando-o em papá e alimentador de todos nós; este bacharelismo, ou educação pela palavra e pelo livro, que cultiva a memória e o palavrório, e não a iniciativa, o método, a perseverança, o domínio de nós mesmos e o dos instrumentos de trabalho; este burocratismo, ou fome universal do emprego público e correlativa incapacidade de ganhar a vida independente, que reduz os partidos a quadrilhas de assaltantes do Orçamento: estes três vícios nacionais são três aspectos do mesmo vício – o comunismo de Estado – desenvolvido por uma péssima educação de séculos resultante de uma corrupta educação económica.
Da sua análise deve partir o educador na nossa terra.” Visão da sociedade indispensável, porque como o Estado não se confunde com a Nação, “nenhuma reforma valerá senão a reforma do espírito público, saudavelmente orientado.” (Sérgio, O problema, p. 30). Por isso também a acentuação que na reforma educativa põem os homens da Seara Nova. Educação que não será apenas instrução mas educação cívica que não se cansarão de propor. (Sérgio, Educação). A elite que queriam promover e – se possível – recriar teria de ser assim o contrário do que fora até então o grupo dominante. Elite que se queria independente do Estado.
Propondo-se desencadear um processo de reorganização geral do País, os seareiros não podem ignorar que aquilo que pretendem reformar tem uma razão histórica. E procurar lições no passado, passado que também tem momentos gloriosos. Disciplina social, elite educada na experiência e do sacrifício, como se exprimia Jaime Cortesão em 1923, para continuar afirmando que desde o século XVI a “dissolução moral” veio a dar no parasitismo. Nenhuma das tentativas feitas nos últimos três séculos tinham resolvido a grave distorção em que os portugueses se encontravam enredados. (Cortesão, “Intuitos”, p. 6).