Percursos e pontos de chegada de cada um dos dois autores centrais fixam-se em 1929/1930 na Historia de Portugal de António Sérgio e em Os Factores Democráticos na Formação de Portugal de Jaime Cortesão – título que é todo um programa e não por acaso explanado na História do Regímen Republicano em Portugal. Concepção necessária para fundamentar as propostas políticas que o grupo defendia, essa busca no tempo passado para a sólida construção de um pretendido futuro. Pontos de chegada — ao mesmo tempo que ambicionavam ser pontos de partida. Quer Sérgio quer Cortesão vêem na história um meio de aplicação das suas ideias à interpretação da realidade social do País e um modo de pensar servindo para fundamentar a actuação reformadora do Portugal do seu tempo. Porém, enquanto Sérgio procura encontrar alavancas para uma indispensável reforma nacional, começando pela produção e distribuição da riqueza, Cortesão sobretudo busca os fundamentos da soberania popular e as suas manifestações no passado. Duas abordagens diferentes com o mesmo objectivo de promover a emergência de outra mentalidade: para Sérgio havia sobretudo que encontrar a elite que guiasse as reformas, para Cortesão havia ainda que bem perceber os mecanismos que conduziam às manifestações populares e às conquistas democráticas que sustentavam a expressão da Nação e o seu alargamento pelo Mundo. Duas posições que não são divergentes à partida e que o exílio vai aproximar ainda mais. Embora Cortesão vindo da militância republicana e Sérgio proveniente do liberalismo monárquico, desde cedo tenham convergido na defesa do regime democrático.
Porque a Seara Nova, em que um certo aristocratismo de gente bem-pensante parece evidente, se inscreve na corrente que procura desenvolver uma crítica racional ao que está, racionalidade que até na política deveria imperar. Porque desenvolver as elites intelectuais como veículos da transformação das mentalidades (e por aí a melhoria na governação) é o propósito seareiro. Nemo nos conducit (ninguém nos conduz), era a desculpa para que tudo funcionasse mal. A que Sérgio contrapunha que com profundas reformas, em todos os aspectos (e não só na educação), se conseguiria transformar a negativa em afirmativa: Ducit (conduz). (Sérgio, Ensaios, II). Era essa a intenção propagandeada pela Seara Nova para que Portugal pudesse avançar num novo rumo. Encontrando e preparando competentes timoneiros.