Caberá a Sérgio redigir um Bosquejo da História de Portugal, resumo que pudesse servir os intentos programáticos do grupo e de introdução histórica ao Guia de Portugal, dirigido por Raul Proença (no quadro dos trabalhos empreendidos na Biblioteca Nacional de Lisboa dirigida por Jaime Cortesão). Publicação que faz parte dessa necessidade patriótica de mostrar o País aos Portugueses. A terra e os homens como uma visão do que o tempo ia deixando em marcas, tomada de consciência que iria contribuindo para a reforma das mentalidades – e da política – que a Seara Nova se propunha. Produziu então António Sérgio um estimulante Bosquejo que ficará como o primeiro marco interpretativo que pode ser dito próprio da Seara Nova – ou que pelos seareiros teria podido ser adoptado.
Logo na 1ª época da história portuguesa, que designa como “Incorporação e organização do território” se começa a impor uma realidade geográfico-económica determinando a formação e a caracterização dos grupos sociais e desencadeando alguns acontecimentos políticos. Aí avança Sérgio com uma ideia que lhe é cara: “a situação dos nossos portos foi o mais ponderoso factor geográfico na independência de Portugal.” Os estrangeiros que a eles concorriam contribuíam para que se evitasse a incorporação do território em Castela. Da série notável dos monarcas da primeira dinastia, destaca-se como rei-modelo D. Dinis. O fomento do território, em especial a protecção à agricultura, assim o revelavam. Sem continuidade posterior, vindo a dinastia e o período a terminar com a crise de 1383-1385 e a solução consequente à revolta social que ocorreu. E aí emerge a consideração de que à burguesia dos mercadores do litoral se opunha a aristocracia proprietária do “hinterland”. A uns o apoio revolucionário a D. João, mestre de Avis, aos senhores rurais sustentar a herdeira de D. Fernando. “Aljubarrota, pois, consagra a independência de Portugal, a nova orientação da sociedade, a queda da maior parte da antiga aristocracia, substituída por gente nova.” (Sérgio, Bosquejo, p. 13).
Abre-se assim uma nova perspectiva para a 2ª época, a da “Expansão ultramarina”. Será esse o tempo de grande fulgor da história de Portugal. A começar pelo escol que se reúne na corte do novo soberano, continuando pelos seus filhos a “ínclita geração, altos infantes” de que falará Camões.