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A EQUIPA
CONTACTO
É este um livro súmula de metodologia – de método de análise e de construção histórica –, que é uma obra-prima também da escrita do seu autor. Para bem se ler e acompanhar a exposição de A expansão quatrocentista, há que ter ao lado os Documentos sobre a expansão portuguesa, entretanto também republicados. Porque em Magalhães Godinho sempre se alia a reflexão inovadora com o domínio erudito e documental. Conjugam-se criação e reflexão com grande rigor de informação erguendo magníficas construções historiográficas. Mais, a sua erudição é, em si mesma, uma problemática. Em que as perguntas que faz decorrem de uma reflexão aturada sobre o tema e temas conexos. Ficam para esse período os elementos necessários para sustentar os esforços para descobrir os descobrimentos na História portuguesa. Que, completados com Os Descobrimentos e a Economia Mundial dão a expansão de Portugal nos séculos XV a XVII, nos seus êxitos e nos seus fracassos. Com o entendimento das estruturas, das conjunturas e dos acontecimentos que interagindo (bem entrecruzados sem adoptar a arrumação braudeliana em camadas) nos põem perante a totalidade da história. Raras vezes a “História total” ou “História global” dos anseios dos historiadores dos Annales terão tido uma realização com tanto êxito.
Dos últimos anos data ainda a antologia de textos de Alexandre Herculano, a que antepôs uma introdução problemática que é também uma reinterpretação do Portugal do Liberalismo. Chamou-lhe “Herculano, o cidadão e o historiador no mundo do progresso.” Sempre a visão do historiador como intérprete não apenas do passado como devendo explicar o presente e abrir vias para o futuro. Por isso a proximidade com o liberal, que estuda na sua dupla vertente. Onde inevitavelmente sobressaem os aspectos políticos e culturais – sempre segundo os velhos procedimentos que foi desenvolvendo a partir dos ensinamentos de Lucien Febvre. E onde, uma vez mais, como sempre, a história da ciência e a história das técnicas são invocadas e trazidas a primeira plana. Porque a explicação do homem – para além do seu génio que a história não deslinda – se contém no envolvimento social em que viveu e agiu. Procurando modificar aquilo que de errado percebia, procurando endireitar caminhos que se enviesavam. Nessas talvez derradeiras páginas originais de uma produção que se estende por setenta anos (de 1940 a 2010), nem sempre o leitor que se familiarizou com a obra de Magalhães Godinho deixará de sentir um paralelismo sentido e talvez afeiçoado do escritor com o seu objecto. Em especial nos últimos anos procurava ânimo para um projecto que acarinhava: as relações da história com a ficção romanesca. No que também converge com Herculano, que à ficção consagrou uma parte (talvez a menos interessante, hoje) da sua actividade de escritor. Tratava-se de, escrevia o historiador liberal, “recompor o coração do que é morto pelo coração do que vive, o génio do povo que passou pelo do povo que passa.” E mais adiante vai a Alfred de Vigny para usar fórmula que considera magistral: “a História apresenta os movimentos colectivos, as acções sociais, mas não penetra na intimidade do ser humano, o que só é possível pela ficção.”
