Num enquadramento temporal de cerca de dois séculos, marcado pelas vicissitudes próprias da evolução histórica portuguesa, com forte predomínio da dimensão política sobre as realizações culturais. De 1796 a 1976, a Biblioteca Nacional foi gerida por 18 diretores, em 21 direções com duração e projetos diferentes. Muito distinta era a formação académica e a experiência profissional de alguns desses indivíduos que estiveram à frente dos destinos da maior e mais importante biblioteca do país.
É difícil e talvez menos relevante, encontrar uma matriz ideológica e política comum, mesmo porque se atravessaram vários regimes políticos, ao contrário do que sucede com a inclinação académica para os estudos literários, bibliófilos ou históricos, aliados ao desempenho de funções, cargos públicos e/ou políticos, fossem professores, deputados ou jornalistas. Um dado que se revela coerente com a natureza pública que esteve, desde o início, inerente à constituição desta biblioteca, por influência das congéneres surgidas na Europa das Luzes, o contexto cultural que acolheu estas iniciativas.
Não obstante, importa pensar que as raízes mais profundas da Biblioteca Nacional mergulham na criação da Real Mesa Censória (1768), uma instituição oficial estabelecida com o propósito de garantir a censura dos livros, funcionando, simultaneamente, como depositária das livrarias da extinta Companhia de Jesus, composta por mais de 60.000 volumes e assegurando a administração do subsídio literário para custear a instrução. Neste empreendimento destaca-se a figura de Frei Manuel do Cenáculo Villas Boas que associou o exercício das funções de presidente da Real Mesa Censória (1770-1777) ao mecenato literário. A sua ação em prol das bibliotecas levou Raúl Proença a compará-lo a A. Carnegie, uma personalidade americana de grande relevo, no início do século XX.
Com a extinção da Mesa Censória, a instituição literária alcança autonomia, criando-se a Real Biblioteca Pública da Corte, em 29 de Fevereiro de 1796, no reinado de D. Maria I, sob a tutela de António Ribeiro dos Santos, formado em leis e reconhecido bibliófilo, com experiência adquirida na organização da Biblioteca da Universidade de Coimbra.