A década de 1950 iniciou-se com a breve administração de João Martins da Silva Marques. Arquivista de ofício e historiador deixou o cargo por ter sido nomeado para a Faculdade de Letras de Lisboa, para lecionar a cadeira de Paleografia e Diplomática, fazendo jus à sua inclinação preferencial, evidenciada na escolha do sucessor: o discípulo Manuel Santos Estevens, que se manterá à frente dos destinos da BNL, até ao 25 de Abril de 1974.
A regulamentação da leitura pública na Biblioteca Nacional, plasmada na Ordem de Serviço nº 1.060, assinada por Silva Marques (16/10/1950), assim como as palavras por ele expressas, num contexto de agradecimento, aquando a sua despedida das funções de diretor da Biblioteca Nacional, deixam transparecer os problemas que aí se viviam, decorrentes em larga medida das características do espaço e do funcionamento, e sublinham a natureza científica da sua missão: uma “austera casa de estudo” ao serviço dos homens de ciência. As críticas ao funcionalismo deficiente são comuns a um certo grupo de intelectuais deste período, mesmo tentando poupar o regime e os seus líderes.
Se tivermos em conta que a BNL mantinha um horário de leitura noturna (20h – 23h),exceto durante os meses de agosto a setembro, pode entender-se haver aqui alguma contradição com outras posturas anteriormente defendidas, uma vez que a leitura à noite tenderia a servir os elementos da classe trabalhadora, o que também está patente na preocupação com a aparência física dos leitores e, em especial, a sua indumentária.
Diretor da Biblioteca Nacional por mais de duas décadas, Manuel Santos Estevens, um “simples funcionário público” com a missão de defesa e preservação do património histórico e artístico de Portugal, como gostava de se definir, intentou aliar a formação científica no domínio da história com o curso de bibliotecário-arquivista, empenhando-se diretamente nas tarefas de inventariação do espólio artístico e documental. Foi durante a sua gestão que se desbloqueou um dos maiores problemas da BNL: a mudança de instalações para o edifício da autoria do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro, localizado no Campo Grande - Lisboa, que tardou mais de um século a ser concebida e demorou cerca de 17 anos a construir.