No âmbito do desenvolvimento das suas funções como Inspetor das Bibliotecas Eruditas e Arquivos, Júlio Dantas teve algumas intervenções importantes, destacando-se as que estão relacionadas com o serviço de incorporações e com a criação de um Posto de Saneamento e Desinfeção de Livros, na Biblioteca Nacional de Lisboa (1914). Esta medida terá sido insuficiente se atendermos às imagens denunciadas por Jaime Cortesão, mostrando o estado lastimoso em que se encontrava o acervo da BNL, destruído pelos bichos, dada a falta de condições para a sua conservação, reclamando por isso uma sala condigna para a leitura pública na Biblioteca Nacional. A sua intervenção, consistente e duradoura, não obteve os resultados desejados e os problemas logísticos e organizacionais da primeira biblioteca do país arrastaram-se por décadas.
A questão da leitura pública e o papel da Biblioteca Nacional nesta matéria dividiu a massa intelectual em dois grupos distintos: os defensores da plena abertura da BNL, entre os quais campeava o primeiro diretor republicano, Faustino da Fonseca, juntando-se-lhe também Bettencout Ataíde e Álvaro Vicente Lial (bibliotecário da BNL) e, num lado oposto, os que pugnavam pela separação entre erudito e popular, ainda que apresentando planos e projetos distintos, como Júlio Dantas ou Raúl Proença.
Outrossim, António Ferrão, ao serviço da Inspeção das Bibliotecas e Arquivos desde o início da I República, foi apresentando diagnósticos detalhados e fundamentados da situação das bibliotecas e particularmente da BNL que, a avaliar pelo que era apontado pelos responsáveis, parecia ter deixado que o seu acervo crescesse desmesuradamente, sem que tivessem sido criadas as condições necessárias para o tratamento conveniente dos diferentes documentos ou fosse sequer garantida a mais elementar manutenção de tão valioso espólio. Faltava também um plano para disponibilizar ao público as obras existentes na Biblioteca Nacional, permitindo-se que a sua utilização oscilasse entre políticas de ocultação e de vulgarização, a ponto de tornar este instituto de leitura num “organismo andrógino”, segundo a opinião do inspetor supramencionado.
A política dicotómica baseada num forte sentido de preservação do caráter erudito da Biblioteca Nacional conduziu à criação da BPL (Biblioteca Popular de Lisboa) que manteve, contudo, uma ligação umbilical com a BNL, facto que incomodava a todos que defendiam uma melhor clarificação das funções de ambas as bibliotecas.